Com o jogo do Murici contra o Flamengo pela Copa do Brasil, voltam à tona as discussões sobre o fato de a torcida do Flamengo ser tão grande, mesmo em Alagoas. Eu, que sou um crítico desse comportamento da torcida alagoana, postei no Twitter algumas mensagens falando sobre isso. Alguns ficaram chateados e se sentiram patrulhados. Para esclarecer minha posição, na época da final do Campeonato Brasileiro de 2009 escrevi o texto abaixo. Ele explica o que penso sobre o assunto.
Sobre futebol e regionalismo
Quase sempre sou acusado de regionalista quando trato de futebol. E pode até ser mesmo. Agora, por exemplo, não consigo esconder minha felicidade porque estarei em Recife no domingo. Não verei a festa nos bares de Maceió, qualquer que seja o campeão (menos o Inter).
Essa realidade de vivenciarmos o futebol dos clubes do Rio e São Paulo como se fossem nossos é meio patética. Mostra o grau pífio do nosso desenvolvimento e um certo provincianismo. É claro que isso pode ter explicações históricas, sociológicas ou até publicitárias, mas nada disso me interessa. Esse assunto não é tão sério assim para acolher tantas questões. Quero apenas dar a minha opinião do ponto de vista individual.
Minha crítica não é uma exaltação às qualidades regionais ou esse tipo de bobagem. Gosto de futebol e acompanho todos os campeonatos, mas não vejo muito sentido em torcer para times com que me não identifico localmente. Times com que não tenho nenhuma história e que, nas suas próprias realidades, vivem no âmbito local (o Flamengo nunca vai jogar o Campeonato Alagoano; quando se fala em São Paulo, não se pensa em Alagoas ou Pernambuco).
E não consigo ver identificação, a não ser onde se pode ir ao estádio, ouvir a torcida de verdade. Não consigo pensar que futebol só se acompanha pela TV.
Na minha opinião, há uma diferença óbvia entre apreciar o bom futebol e torcer para um clube. Ao torcer, queremos o triunfo sobre o outro. Queremos estar representando algo, algo com que nos identifiquemos. Assim, não consigo entender como alguém consegue se identificar com tais times. Para mim, essa forma de manifestação não passa de um complexo de vira-lata e, obviamente, da falta objetiva de clubes locais com alguma qualidade. As pessoas não se contentam em assistir a jogos de futebol, elas querem torcer, mangar do outro no fim de semana, essas coisas.
Portanto, para que fique bem claro, não acho correto tratar os torcedores desses clubes de traidores ou coisa que o valha. Isso é uma bobagem! Muito menos expressões intolerantes como a tal "paraibaca", usada pelos recifenses (sem razão, pois, em Pernambuco, muitos são torcedores do Rio-São Paulo).
Mas também não queiram que eu ache isso tudo normal e que até me contente e pense que isso tudo é uma manifestação linda. Infelizmente, não dá. Para mim, é provincianismo sim. Se depender de mim, defenderei o prazer de ver o time da sua esquina triunfar sobre qualquer outro. Falarei da diferença essencial entre torcer para um time que no nome, já contém a referência que o identifica, e torcer para um time "de longe". Quando seu time ganha, a alegria do torcedor é muito maior, muito mais genuína. Quem já experimentou abandonar essa coisa de torcer para times do Rio e São Paulo pode confirmar a diferença.
É como digo sempre, não tenho raiva dos "cariocas-nordestinos", eu só tenho pena. Mas também tenho medo de que Maceió se transforme numa João Pessoa. De nada adiantou minha mãe me levar ao Almeidão para ver o Belo. Hoje, seus torcedores não juntam nem 4.000 pessoas no estádio. A Paraíba é flamenguista.
Em Maceió, ainda temos maioria. No vídeo abaixo, a torcida azul faz o show. Tudo bem que era contra o Botafogo-RJ, que, segundo dizem, não tem torcida mesmo...