Agora é ética, sociologia e teoria política. Meu menino, não satisfeito em perguntar sobre a origem do mundo, agora quer saber como foi a origem da sociedade. Então, do nada, ele pergunta:

- Papai, no começo do mundo, as pessoas, cada uma pegou suas casas e começou a trabalhar, foi?

Eu ri! E aí? Como se responde a isso? Será o menino intuindo a concepção liberal do estado de natureza? Cada um com seus direitos, usando e gozando da propriedade adquirida pelo trabalho. Se eu fosse um marxista iria ficar puto, hein? Iria falar das desigualdades e das favelas para um menino de cinco anos. A culpa sendo ensinada desde cedo. Mas como não sou comunista, preferi encarar com naturalidade a intuição dele. A imagem desse estado de natureza lockiano é simples e serve para explicar a realidade complexa até para um menino de cinco anos. Respondi:

- É mais ou menos isso mesmo, filho. Cada um construiu sua casa e trabalhou para ganhar dinheiro e comprar comida. E todo mundo tem que trabalhar, viu? E para isso, precisa ir a escola e estudar bem muito!

A explicação do contrato social ficou para depois.

Sabe o que é interessante? O modelo baseado no estado de natureza e no contrato social é, moralmente falando, bastante relevante. É claro que ele é a base de uma sociedade democrática e que respeita o indivíduo. Mas é também uma imagem que coloca o indivíduo no centro da ética e da política e evita os coletivismos antiliberais. Simpatizo muito com isso.