Gosto muito de conversar com meu filho. Acho que, por isso, ele sempre me escolhe para as perguntas mais difíceis. O melhor momento é antes de dormir. Conto uma história e a gente bate o maior papo. Pois não é que meu menino, aos cinco anos, está se iniciando nas questões filosóficas? Numa conversa qualquer, ele manda:

- Papai, por que ninguém sabe quem criou esse mundo aí?

Perceba que ele não perguntou quem fez o mundo. Ele já partiu do pressuposto de que essa é uma pergunta sem respostas claras. E partiu de um pressuposto platônico. Eu, que não sou religioso, evitei a resposta mais fácil, que seria, “foi Papai do Céu que fez o mundo”. Para evitar impor um demiurgo ou criador, respondi:

- Meu filho, é que esse mundo é muito antigo, quando nós nascemos, ele já tava aí. Por isso ninguém sabe direito quem fez ou se ele nasceu sozinho.

Não satisfeito, o menino mandou:

- Acho que foi Papai do Céu, né?

E agora? Respondi:

- Pode ter sido filho, tem muita gente que diz que foi ele mesmo. O problema é que não dá para saber com certeza. Mas, me diga, quem foi que te disse essas coisas?

- Ninguém, papai. Eu que pensei com a minha cabecinha.

Eita que eu ri demais!

Amigos, tenho um cuidado especial ao tratar desses temas que envolvem religião e metafísica. Se um dia meu filho se interessar pelas respostas da religião eu vou até incentivar, mas não quero impor nada, pelo menos por enquanto.

A ética não depende dos argumentos religiosos, por isso tento manter a porta aberta sem obrigar meu filho a nada. Esse tipo de pergunta, na verdade, nem a filosofia responde, quanto mais uma criança de cinco anos! Acho importante que esse tipo de dúvida não seja assim dirimida tão facilmente com a imagem do Deus criador. Aliás, mesmo essa imagem é passível de novos questionamentos, não é?

Acho que o papo foi razoável, por enquanto...