Aquele domingo estava sendo mágico! Sem igual!

Seu time em campo jogava um bolão!

No primeiro tempo, foram 7 gols... Adversário encarnado humilhado, craques em alta...

O estádio lotado, da cor do céu, gritava o hino da torcida!

Néco de Dasdô estava em transe. Flutuava. Jamais sentira aquilo!

O Trapichão limpinho, cheio de policiais... quando viu, já estava sentado na geral. Teria voado?

As líderes de torcida do seu time compunham um conjunto de loiras gostosíssimas, patrocinada pela Credix, estilo modelo sueca. E o melhor: uma deu uma piscada para ele, mordendo os beiços de desejo e chupando o dedinho! Que emoção!

E o jogo rolava. Seu time, dando espetáculo. Placar já estava em 23 a zero. Era pedalada, chapéu, drible e passe perfeito, o juiz anotando tanto gol na súmula que uma hora faltou tinta na Bic velha de guerra.

Intervalo, amigos se abraçando. Como de “ômi” ele dizia ter alergia, foi pegar uma cerveja no quiosque da tia Benê, baixinha, magrinha e feia que nem a Cuca do Sitio do Picapau Amarelo: pele grossa, escamosa, verde, queixo e rabo grande, dentão de serra e cabelo amarelo.

Mas chegando lá, que surpresa!!! Tia Benê estava a cara da Maitê Proença. Ela olhou para ele e lhe falou, “facilzinha”: “Agnello, amore mio”.

Pronto, pensou ele estar em uma cena da novela "Passione". Os alto falantes do estádio começaram a tocar “Estate” com João Gilberto e tudo. Não deu outra. “Deram uma” atrás das caixas de cerveja e encobertos pela fumaça da churrasqueira, espetinhos a assar...

Só pararam quando ele ouviu um grito enorme no estádio: UUUUUHHHHHHHHHHH!!!!!! Era o 32º gol de seu time. Era a demais!

Desceu rápido para a arquibancada com fôlego sem igual. E olha que Tia Benê/Maitê Proença bebeu todas com ele lá em cima. Sentou de novo e acompanhou o desempenho de seu timaço.

Um painel enorme com uma foto em 3D do Jacozinho e com outra do finado Valdemar Carabina dominava o outro lado da arquibancada do Rei Pelé.

Aos 37 do segundo tempo, um fato inédito: o time adversário parou de jogar, todos os atletas se ajoelharam diante dos 11 jogadores de seu clube e começaram a bater palmas, depois carregando cada um nas respectivas corcundas dando uma volta olímpica...

Era vibração pura. O goleiro do time adversário, em sinal de devoção ao time do Néco, pegou a bola e colocou mais 10 vezes para dentro da trave dele, ele mesmo, fazendo mais 10 gols contra e aumentando o placar para 42 a zero.

O estádio foi ao chão de alegria. Aliás, todo o estádio era de uma cor só, da cor do mar.

Foi quando a galega líder de torcida apareceu sentadinha, do nada, de sainha colegial marinho mais clarinha, curtinha, com cara de safadinha e “pom pom” azul como seus olhos... ela sussurrou em seu ouvido: “Néco meu nêgo, vem nhanhá!”.

Nosso herói, 43 anos de puro bucho, bafo e movido à álcool não decepcionou. Sua boca grande e sem dente se atracou com a da galegona. Parecia cena de 9 semanas e meia de amor...

Depois do amasso fenomenal, Néco só via no enorme e reluzente letreiro eletrônico do Trapichão: “Rumo a Tóquio”! Não, era impossível seu time!!!! Uma seleção! Uma verdadeira “Squadra Azurra”... Real Madri, Barcelona, Milan, que nada... Ia dar anil na terra do sol nascente. Era só esperar.

O "lanterninha" de cartão tocou e ele atendeu: era Ronaldinho Gaúcho, Alexandre Pato, Neymar e david beckham se oferecendo para jogar de graça no seu time do coração, comendo sururu da lagoa todo dia... Era só Néco combinar com a Mancha e com o Sexto!

Um helicóptero desceu do céu e um casal saiu com uma taça enorme, toda de ouro, e entregou para o cartola do clube. Era o caneco que a torcida merecia sendo entregue pela presidenta Dilma e pelo ex-presidente Lula, em pessoas. Que prestígio!

Foi quando Néco viu Lula olhando para ele de longe e fazendo um sinal com o dedo polegar em direção à boca. Néco não entendia e ficava “hummmmm, hummmmm, hummmmm, hummmmm, hummmmm?” querendo entender.

Ai percebeu que o ex-presidente queria “tomar uma” com ele, em comemoração. Lula fazia sinal de rodinha girando os dedos, até com o amputado... Néco não entendia e ficava “hummmmm, hummmm, hummmm, hummmmm, hummmmm?” cada vez mais alto. Mas é claro: como tira gosto Lula queria provar a tripinha frita da Dasdô!

Néco gritou de alegria “uauauauauauauau” e de repente, numa fração de segundo, tudo mudou com uma “tapona” gigante na sua cara de sem vergonha: “pppooooowwwwwwww”!

Era tudo um sonho!

- Cachaceiro safado, tá sonhando com rapariga né! É isso que dá ficar bebo quando seu CSA perde! Acorda pra trabalhar vagabundo!

Era Maria das Dores, a esposa, acordando Néco para a realidade, para a segunda-feira de trabalho no Mercado da Produção e para a “agitação” que ala regateana da Levada iria fazer com ele, o dia todo, após mais uma derrota azulina.

 

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