Viúvo há mais de década, cinquentão, assessor de segundo escalão de governo, bom salário e sozinho.
Nesta rotina vivia o Dr. Elói.
Desde que a santa dona Lourdinha, a falecida, faleceu, sua vida era trabalho, juntar dinheiro, tomar caipirosca na Massagueira e dormir sem ninguém.
Manso que só, vivia sua vidinha até aquele convite do chefe.
Terça-feira “gorda”, carnaval “bombando” na Paripueira, uns goles a mais e a visão do pecado em estado máximo: Jennyfer Kymberly da Silva.
Eram 18 aninhos e pernas, seios, cabelo, boca, cheiro e tudo mais de perdição. Do “camarote” da festa ele viu a “moça” levar a risca o refrão do axé: era na base do beijo. Beijou, um, dois, três, trinta e três... sumiu meia hora e ressurgiu vindo da praia de mãozinha dada com garotão... Mas ele não se importava. Tímido, no fim do trio, pediu o fone da moreninha.
Ela se encantou com os olho$ claro$ e cabelho gri$alho do coroa.
Dali para uma revolução em sua vida foi um pulo. Em menos de um ano, Jeninha roubou seu coração. Foi casório relâmpago. Mesmo sob a advertência de todos de que a musa tinha o diabo no corpo.
Não deu outra!
Foi “gaia”!
Vida de madame ela tinha. Dia em casa sozinha, fogosa, tudo do bom e do melhor, marido calminho, horas, dias e noites inteiras na repartição. E as “visitas” no ap. 501 da Jatiuca passaram a ser constantes. Jeninha traçava tudo!
Era padeiro, borracheiro, instalador de ar condicionado, entregador de pizza... Dr. Elói recebia e-mail e carta anônima, os amigos tentavam advertir. No “racha” semanal, Betão, ponta esquerda do Confiança F. C., deu-se a intimidades com Jeninha. Os amigos se revoltaram, avisaram ao Doutor, mas ele não deu bola. Devia ser intriga da oposição. Chamou Betão para a caipirosca da semana e tudo mais...
Jeninha ia que ia. E os galhos na cabeça do Dr. Elói se multiplicavam. Todo mundo já sabia, tentava alertar o amigo, constrangidos e constrangidas com a cornice do Doutor. Até o secretário, tamanha a fama da “gostosinha do Elói cornudo”, foi lá no apê para dar uma mordiscada!!!
O porteiro do prédio disse para Dr. Elói que, se precisasse, ele iria lá “consertar o computador” da “Dona Jennyfer”, “já que há 15 dias o ‘técnico’ passava lá e não tinha sucesso na ‘empeleitada’”. No parabrisa do carro, deixaram bilhetinho: “Acorda Chifrudo”! Mas o maridão não acreditava.
Até o dia em que Dr. Elói faria uma inspeção em São Miguel dos Campos. Dormiria por lá. Recomendou cuidado à mulher. Ela, amorosa, disse que ficaria em casa vendo o BBB, até alta madrugada, na TV por assinatura. Ele se foi, meio desconfiado, “mas era tudo calúnia e malquerência pra cima da Jeninha, prá cima da minha ‘momosa’ ”...
Como o serviço acabou mais cedo, voltou de noite para casa. Entrou no prédio, subiu o elevador. Iria fazer surpresa para a amada. Entreabriu a porta de mansinho, olhou meio que na fresta da entrada, sala à meia luz, som do “paredão” do reality show bem alto e Jeninha por baixo...
Com Serjão, surfista, desocupado e filho do síndico, por cima... ambos em movimento... ao vivo e se mexendo.
Que choque. Que decepção. Seu mundo caiu! Olhos cheios de lágrimas, ficou imóvel!
Mas não gritou, não dramatizou, não partiu para a agressão. Silenciosamente fechou a porta. Jeninha e Serjão nem notaram o flagrante. Foi para a escada do prédio e caiu em pranto contido. O chifre, agora, se fazia real, concreto, palpável... e doííído.
Passou horas sentadinho nos degraus... o dia já ia amanhecendo quando a porta se abriu. Escondido, do canto da escada, ainda viu cenas de luxúria em pleno corredor entre os amantes. Jeninha fazia coisas de contorcer e gemer. Foram quase 20 minutos de pegação.
Quando ela fechou a porta, ele cresceu. O sangue lhe subiu, parecia um touro enfurecido. Foi ela fechando a porta e ele, em seguida, abrindo com violência jamais exercida por ser tão pacato. Jeninha sacou na hora. Das duas uma: ou seria morte, ou espancamento brutal, ambos sem nenhuma chance de defesa!
Dr. Elói estava vermelho! Rangia os dentes, olhos esbugalhados, respiração sôfrega. Jeninha disse “momosinho, já?????”. O manso foi na dispensa, pegou uma marreta! Jeninha já ia gritar! O marido traído partiu para cima!!!!
Prá cima da TV e do decodificador!
Dr. Eloi surrou a LCD de 52 polegadas. Deu tanta batida, quebrou tudo com tanta virulência, dobrou a tela fina com cólera... ira demoníaca mesmo...era vidrinho prá todo lado. O decodificador, coitado, virou restos de pó e componentes, quase um pastel de plástico preto. Ele urrava a cada marretada! Depois jogou tudo varanda a afora!
Olhou para Jeninha, com a marreta bem segura na mão! Era só fúria, só rancor. Ela se ajoelhou. Melhor levar logo marretada na cabeça e morrer de uma dor só, jorrando sangue com buraco fundo e grande no quengo!
Foi quando ele berrou!
DE HOJE EM DIANTE, NADA DE PAY PER VIEW! TV, SÓ ABERTA! É SÓ GAZETA, PAJUÇARA E TV ALAGOAS, COM PASTOR E TUDO! NET, SKY, JET? SÓ COMIGO MORTO! E TEM MAIS: NA SALA SÓ A 14 POLEGADAS DA ZEFINHA! PODE PEGAR NO QUARTO DE EMPREGADA!
E deixou a mulher na sala, intacta e perplexa.
Jeninha fez café para o Doutor. Ele tomou um banho, leu o jornal.
Nunca mais tocaram na tragédia da marreta.
Viveram felizes para sempre.
O maridão sem GloboNews, sem CNN, sem HBO. Ver o jogo do ASA na série B ou do Botafogo no campeonato carioca, só no botequim!
E Jeninha ficou com todos os homens do mundo.