O problema, ou a solução, na vida de Juarez era a queda dele por mulher, como diria o Rei Roberto, de “40”.
De “40” só? Mais um (muito!) pouco, já que isto para ele era puberdade!
Quanto mais “experiente”, melhor, na sua visão.
Cinquenta para cima, no mínimo!
Tanto que a preferência amorosa lhe valeu um apelido, dele malquisto e por ele malvisto, com razão: Juarez “Papavó”.
Preconceito puro de quem debochava, com vilania, de seu "gosto".
Juarez “Papavó”, 26 aninhos, ia de conquista em conquista. Agência do INSS, encontro de plano funeral, consultório de geriatra eram points de seu roteiro peregrino em busca da mulher, em seu caso, perfeita.
Suas “presas”, predador de “cocotas” de melhor idade que era, tinham que ter “anos” a mais. Não se importava com “cara de maracujá”, como dizia a oposição de amigos invejosos... varizes, cabelos grisalhos... gordurinhas, seios flácidos... hummm, que tentação!!!
Cirurgia plástica jamais! Botox, nunca! Gostava “ao natural”, pelanca pura mesmo...
Naquele domingo, almoço na casa de Vitinho Neto, seu melhor amigo, e um dos mais ferrenhos “agitadores” e gozadores da atração do amigo por mulheres maduras, e muito maduras.
Juarez foi lá sem porque, bater papo, matar tempo.
Firmou passo sala adentro, a convite do amigo de faculdade.
E foi lá que teve a visão do paraíso.
Era almoço de família e no centro da mesa estava ela. Vovó Mazé, visita dominical, viúva, elegante, ainda meio curvilínea sim, cheirosinha, meio adepta de caminhada, 68 aninhos de, para ele, perdição.
Foi amor a primeira vista.
“Papavó” arreou.
Teria que ter aquela mulher para ele.
A primeira investida foi um lance de olhar fulminante. Vó Mazé arrepiou-se, mas imaginou se perguntando em silêncio: será?
Prato principal, sobremesa... sala de estar e conversa. Juarez “Papavó” jogou todo seu charme e erudição rumo à conquista: relacionou vida e obra de Elizeth Cardoso e Angela Maria, falou dos carnavais da Fênix e do Tênis Clube de Jaraguá, do embate entre Arnon de Mello e Silvestre Péricles. Criticou a carestia do Corega e da Bigen, o congelamento das aposentadorias e pensões, mostrou cartão fidelidade de farmácia...
Disse, na primeira oportunidade a sós com Mazé, que ela era especial, um “docinho de coco”...
Pegou na mãozinha cheia de veias da amada e trocou telefone às escondidas. Saiu de lá saltitante! Vitinho Neto desconfiou, bronqueou, mas fazer o que?
Dali para um romance de porta e um sexo selvagem, ao estilo de ambos, foi um pulo. A diferença de quase quarenta anos não importou. A família torceu a cara de começo, mas depois aceitou na boa.
Anunciaram namoro, casamento. Hoje vivem felizes e apaixonados no casarão do Farol, bancando tudo com a gorda pensão da Vó Mazé, herança do falecido Dr. Vitor de Almeida Barros, fazendeiro da zona da mata.
Vitinho agora dá benção à Juarez. Que não admite mais “fuleiragem” de apelido sacana.
E para o sempre, a partir de então, Vitinho teve que engolir o amigo, antes alvo de chacota, como vovô garotão.