O tempo de Festas já ensaia sua despedida, mas em Maceió e em Alagoas uma realidade sem a menor graça insiste em não nos abandonar: estamos situados como estado e capital entre as mais sem festas e com maior descaso à cultura do Brasil, arriscaria afirmar com o desalento de um alagoano que sou por amor, por paixão, por opção e por devoção perene.

Mesmo com um povo acolhedor, um cenário natural único e plenas condições de agregar valor à nossa hospitalidade por meio de eventos culturais e festivos, insistimos em ter tempos de festas, sempre, sem festas. Mais uma de nossas humilhantes contradições!

Por que nossos governos dão às costas às festividades e à cultura? Com a palavra nossos gestores públicos.

Natal é tempo de Luz em todo o ocidente. Menos em Maceió! Não fossem as iniciativas de condomínios, residências da classe média ou de empresários, voltaríamos à época dos Reis Magos e a única luz visível em nosso horizonte seria a da Estrela de Belém.

Isto porque a decoração natalina com que a Prefeitura de Maceió "ornamentou" a Orla de nossa capital é simplesmente um escárnio, um vexame maceioense com relação a outras capitais brasileiras e nordestinas. Do Governo Estadual, então, não se viu nem um pisca-pisca chinês sequer.

Mas as poucas luzes nos postes e fachadas são somente detalhes em uma maré de inanição.

Quase não temos festival de música, de canto, de dança, de cinema, de teatro, de nada... Temos São João com sanfona desdentada e forro franzino. Temos carnaval sem um frevo, sem um samba, sem um axé, ao menos nos bairros não centrais, já que o trade hoteleiro vende, com justeza, Maceió como destino de descanso em meio à folia.

E não por descaso de quem se dispõe a atuar nesta área. É que a letargia governamental transforma estas em míseras iniciativas de pouca repercussão, alcance e continuidade, frustrando os sonhos e o trabalho de um abnegado exército da cultura local. Exército que mesmo diminuto é sempre combativo.

Para variar não há nas escolas, ou nos centros comunitários quando estes existentes, políticas de fomento à cultura, à valorização e ao desenvolvimento de talentos artísticos. Nossos mestres dos folguedos recebem, alguns, migalhas do setor público vendo morrer com eles nossa tradição. Os espaços públicos são precários. Até o “multieventos” da Praça na Pajuçara é somente um irônico nome-adereço.

Se não fossem vários guerreiros da cultura e das festas em Alagoas seríamos o estado mais cinzento do país. São pessoas ou instituições que, sozinhas, fazem a diferença. Gente como a turma do Pinto da Madrugada, dos Seresteiros da Pitanguinha e da Associação de Folguedos, entre vários outros homens e mulheres que se lançam nesta tarefa de nos animar e nos engrandecer pela arte e pela alegria.

Ou instituições como a UFAL, o SESI e o SESC, com suas programações culturais de alto nível, e ainda organizações não-governamentais ou Pontos de Cultura que, no meio de outros organismos locais fazem a diferença.

O Governo do Estado ainda é mais “arrojado” que a Prefeitura de Maceió, haja vista os espaços que celebram o Mestre Aurélio Buarque de Holanda e o imortal Lêdo Ivo, no Museu do Palácio dos Martirios. Mas os dois, juntos, não rendem um “temporada” completa.

O resultado dos tempos de festas sem festas são nefastos: juventude ociosa e sem perspectiva à beira da marginalidade, gente sem opção em diversão e sem desenvolvimento de senso critíco-estético, subdesenvolvimento e exclusividades de “Tarraxinhas” e afins.