Alcinho era a rena mais “sem vergonha” da Lapônia.

Malandro, trambiqueiro, beberrão, jogador fino de carteado, metido até com agiotagem, galanteador de rena fêmea alheia e, em especial, rei do macete na noite Natalina.

- Puxar trenó na neve? Nem a pau, Santa Claus! Alardeava o fanfarrão.

O departamento de recursos humanos do Papai Noel já sabia, ano após ano, que Alcino tiraria “licença médica” em dezembro. Era dor na costela, resfriado e coriza, lesão por esforço repetitivo nas patas... uma montanha de atestado médico que não acabava mais!

Isso quando na noite de Natal ele não pagava a “diária” para outra rena tirar seu “serviço”.

Diziam as más línguas daquela cidade gelada que enquanto o Papai rodava o mundo visitando criancinha, Alcinho “visitava” a Mamãe Noel após a Missa do Galo... maledicência pura daquele povo do lá do pólo...

Alcinho, rena solteira, vivia a vida assim. Só balada, curtição, e beijar muuuuiiitooooo na “fuça”.

Voar a madrugada inteira puxando aquele gordinho que passava o ano inteiro com uma só roupa vermelha e, além de tudo, era inimigo do “Prestobarba”... e ainda puxando uma montanha de presente? Que nada! Era fria! Programa de índio!

A noite de Natal ia chegando e Alcinho já estava com a “tirineta” preparada. Renalvo, rena trabalhadora, cobriria sua escala na madrugada do 24 para o 25 de dezembro.

A rave na boate iria ser boa! Rena fêmea solteira não pagava entrada na Noite Feliz... Olêlê!

Quando foi dar entrada em mais um “afastamento” no departamento de RH, o elfo Dirceu, já conhecedor da pilantragem de Alcinho, aplicou:

- Poxa Alcinho, logo neste ano que a Alcina foi escalada para a viagem! Uma pena hein!

Alcinho enlouqueceu. Alcina era cobiçada por elfos, renas e, comenta-se maldosamente, até pelo Papai!

Esbelta, 22 aninhos, quartos firmes e largos, couro moreno reluzente, patas e garras afiadas e brilhantes. Era linda! Uma rena gata, se é que isto existe.

Na hora Alcinho recuou de imediato. Rasgou o atestado, deu desculpa esfarrapada para Renalvo. Naquele Natal o esforço valeria a pena. Iria sim trabalhar a noite toda, ao lado da Alcina, juntinho. E em toda a viagem ao redor do mundo seria cantada para dar e vender.

Ao final, levaria sua presa para a Ceia, literalmente.

E assim se foi Alcinho. Apresentou-se, juntou-se se às demais renas e, coladinho à amada, voou a noite toda. Que esforço!

Começou na Lapônia mesmo, depois Europa, Estados Unidos, África... Papai Noel leu errado o GPS e desviou do Japão, sem querer. Após fazerem toda a América, chaminé por chaminé, janela por janela, ainda tiveram que voltar para a Oceania...

E haja parar, haja “Houw Houw Houw”. Um saco, em dobro! Só valia a pena pela Alcina. Rena gostosíssima!

Em todo o trajeto, era papo furado, piada sem graça e “chaveco” sem noção para a “menina”. Alcina olhava, ria de mansinho, olhinho sedutor e carinha de quem queria mais... Mas não falava nada, não correspondia “na vera”. Alcinho, mesmo assim confiante, lambia os beiços e era só esperança...

- É hoje meu São Nicolau!!!!!!!!!!!!

E foi assim por toda a noite, até a manhãzinha. Deixaram a Groelândia por último, lá entregaram os últimos presentes... o sol já ia se nascendo, era hora do Papai Noel voltar, anônimo e imperceptível, para os braços da Mamãe.

- Atenção tripulação do trenó, pouso autorizado! Dizia o Papai. Alcinho era só piscada para Alcina, que sorria fogosa que só. Mas nada dizia...

Pousaram, todos fatigados. Estacionaram o trenó. Papai Noel agradeceu e, no meio do agradecimento, Alcinho cruzou olhares com a gata rena e atacou:

- E aí, vai querer peru no seu ou no meu iglu?

Alcinha, atônita, abriu a boca para responder:

- No ...

Foi quando tudo aconteceu! Só se ouviu o som da patada e o grito do Alcinho.

Aiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiaiai!

Jorjão, alce de 2 metros de chifre, voz grossa e palmo da pata do tamanho de uma requete de Itu, não aliviou. Era namorado de Alcina, bravo que nem siri na lata, ciumento e conhecedor da fama de malandro de Alcinho. A "tapona" foi forte, certeira, estridente e "nocauteante".

Foi lona! E o resto do Natal da rena vigarista foi num HGE todo de gelo.

Ao abrir os olhos na manhã do outro dia, o conquistador barato viu um bilhete. Leu baixinho:

- Alcinho, seja um bom menino em 2011. Assinado, o Bom Velhinho!
PS.: e se visitar a Mamãe de novo seu “filho de uma p...”, a próxima munhecada vai ser a minha. “Houw Houw Houw”.