Desde o golpe de 1964 que não se via uma mobilização de militares igual a esta operação para ocupar os morros no Rio de Janeiro e prender traficantes – que, por descuido das autoridades, estabeleceram o poder paralelo e ditavam as normas e a lei nas favelas.
Vencemos! Festejou o comandante do BOPE carioca ao atingir o cume do morro e fincar lá o estandarte da corporação.
Mas, vencemos o quê mesmo?
Em primeiro lugar é bom ser sincero e dizer à sociedade que é impossível acabar com o tráfico, seja de droga ou de armas. A ocupação dos morros não significa que o crime foi extirpado e agora vamos viver igual a Alice – no seu Pais das Maravilhas.
Gente! Em Nova Iorque, em Paris, em Madri, em Londres, em Lisboa, em Atenas, enfim, onde a droga não é legalizada existe tráfico e se existe tráfico tem traficante.
O problema é que o traficante em Nova Iorque não desfila com armas pesadas e não serve como “cabo eleitoral”.Essa é a única diferença.
Uma amiga minha morou em Boston e trabalhou numa loja de conveniência em frente a um hospital público, onde os veteranos da guerra do Vietnã recebem tratamento médico e psicológico.
Essa amiga me dizia que todos trabalhavam sobressaltados, porque alguns dos veteranos de guerra - a grande maioria deles de mutilados – entravam na loja fumando maconha livremente como se fosse cigarro comum; outros compravam água mineral para destilar a cocaína e aplicá-la na veia à vista dos clientes.
O deputado Fernando Toledo visitou a Alemanha e me disse que teve receio de atravessar o túnel que liga a estação do metrô, porque havia uma dezena de jovens alemães se drogando. Era um verdadeiro corredor de drogados; a diferença para os rebotalhos humanos que se drogam por aqui é que eram todos brancos, de olhos claros e bem vestidos.
Vencemos! Gritou o comandante do BOPE.
Sim, mas vencemos o quê?
Tem mais o seguinte: os traficantes vão procurar outros lugares para se estabelecerem. Se não pode ser mais no Morro do Alemão ou na Favela Cruzeiro, com certeza será em outro lugar.
Nessa guerra não tem vencedor.