Na peça “Galileu”, o escritor alemão Bertolt Brecht escreveu o diálogo a partir da afirmação: “Infeliz do País que não tem heróis”.

Galileu respondeu: “Infeliz do País que precisa de heróis”.

Taí a dicotomia; o nó apertado, porque o correto é que não se precisasse de heróis – mas, todos nós precisamos e essa necessidade começa em casa.

Ainda que alguns heróis tenham morrido de overdose, a figura dele é imprescindível ou pelo menos tem sido até hoje.

Todos precisam de heróis, até os que dizem que não precisam. É igual à fé – que todos têm, até quem costuma dizer que não tem.

Lembrem-se: mente quem diz que a Lua é velha!

Todos nós somos idólatras, até os que condenam a idolatria, porque a reação à idolatria se dá por ordem econômica.

O mulçumano condena a idolatria porque é imperioso, inclusive por ordem econômica, que se fortaleça Maomé.

Os evangélicos condenam a idolatria da Igreja Católica porque é imperioso fortalecer a figura do pastor – que, quanto mais forte, mais arrecada.

Mas, todos são idolatras; ao venerar Maomé, o mulçumano pratica a idolatria. O mesmo se dá em relação a Jesus Cristo – que acho bom, pois sou idolatra compulsivo.

Na semana passada não pude estar presente para venerar Paul McCartney, mas o venerei pela televisão e depois fui no fundo do baú e peguei o LP “Revolver” para rodar na vitrola que ainda reage ao tempo.

Os Beatles são também os meus heróis.

Viajo agora pelo Brasil e vejo a figura do presidente Lula – que se tornou herói nacional; depois de 1930 é o primeiro presidente da República que elegeu o sucessor que quis.

Aliás, o Lula se tornou herói da América Latina!

O bom nos heróis é que eles jamais poderão ser fabricados; o herói é igual ao jogador de futebol – ele já nasce jogador de futebol, assim como o herói nasceu para ser herói.

Não estamos falando daquele herói efêmero, igual àquele jogador de futebol que faz o gol do título e vira herói por um dia.

Estamos falando dos heróis, mesmo daqueles que morreram de overdose, sim, porque também existe herói morto - ainda que haja quem diga preferir o covarde vivo.

Pois, gente, sabe o que eu estou achando é que o Brasil já resolveu o seu problema em relação à sentença de Bertolt Brecht – ou seja: já temos nosso herói, que é o Lula.

Do ponto de vista do Galileu é que me vem a dúvida atroz: será que o País será feliz porque agora tem um herói?