Sinceramente, o dia da consciência negra é uma data racialista. Abomino essa coisa de “orgulho de ser negro” ou bobagens do tipo. Isso é coisa de racista. Se existe a necessidade de um feriado como esse, ele deveria servir para lembrar do racismo como algo odioso e não para enfatizar diferenças baseadas na cor da pele. O racialismo é a pior face do multiculturalismo.
O multiculturalismo, na verdade, é um movimento reacionário, que pretende substituir a noção de tolerância pela de “reconhecimento” das diferenças, repetindo as táticas e ideias racistas que moviam a ciência biológica moderna. Discordo da postura multiculturalista porque fomenta a separação e não a inclusão dos indivíduos numa cultura de direitos humanos e tolerância. Discordo porque é um movimento que não enxerga o indivíduo, mas a comunidade, esquecendo de que são indivíduos que formam a comunidade e, portanto, vêm antes dela.
Por isso que eles não enxergam as dificuldades concretas dos indivíduos, mas a sua pertinência a um grupo, o que leva, obviamente, a injustiças. Daí que, “ser negro”, seja lá o que isso signifique, colocaria o sujeito numa posição social específica, mesmo que ele, concretamente, não tenha nenhuma relação com as características do grupo ditadas pelos seus líderes e intelectuais.
Ademais, não há exemplo histórico de segregação racial que tenha resultado em boa coisa. Toda ênfase na separação racial resulta em preconceito e discriminação. Não existe discriminação positiva. A cultura liberal de defesa dos direitos humanos universais é o que fomenta a democracia, a civilização e igualdade de oportunidades.
Ainda mais num país mestiço como o Brasil! Mesmo com a tentativa dos racialistas de acabar com a obra de Gilberto Freyre, o mito da democracia racial ainda nos forma como nação e, admitam, esse mito tem apoio na realidade. Somos mestiços e isso dificulta o trabalho dos racialistas brasileiros.
Prefiro a luta contra o preconceito pura e simples. Defendo uma sociedade tolerante, não uma sociedade multicultural. Defendo a ideia de tolerância e inclusão como resposta ao racismo. Enfatizar as diferenças culturais ou raciais só leva ao afastamento e não à integração. Querer que o estado atue na manutenção das culturas dificulta a integração social. Aliás, Estado não tem que se meter em questões culturais ou raciais.
Por isso, o dia da consciência negra deveria ser substituído pelo dia da luta contra o racismo. Seria bem mais democrático.