Quero descrer que interesses que não são políticos, e são sim politiqueiros e por isso sórdidos, vão impedir Alagoas de receber o estaleiro Eisa.

Quero descrer que esta polêmica em torno do licenciamento ambiental para a instalação do estaleiro seja motivada por ações e sentimentos desprezíveis, de gente descomprometida com nosso estado, de gente sem caráter, sem vergonha, sem compaixão.

Quero descrer que nosso governador reeleito e nossos políticos vencedores ou perdedores, que ilustraram suas estratégias de marketing eleitoral com as maravilhas de um Eisa alagoano, assim procederam em escárnio à inteligência do eleitorado, protagonizando um criminoso episódio de propaganda enganosa.

Quero descrer que anos de discussões, estudos e experiências globais na questão do desenvolvimento sustentável serão incapazes, por completo, de conciliar a vida dos caranguejos e do mangue com o crescimento econômico alagoano e nordestino.

Quero descrer que nossos governos, nossas autoridades e nossos tecnocratas serão tão incompetentes, tão indolentes, tão lerdos e tão sem iniciativa ao ponto de fazer o Eisa, a exemplo de outros investimentos empresariais de grande porte, fugir de Alagoas.

Quero descrer que nossas autoridades ambientais ou que nossos ecologistas estejam fazendo jogo sujo ou implementando boicotes motivados por interesses vigaristas.

Quero descrer que os organismos de licenciamento ambiental estão a serviço de gatunos, de patifes, da escória de nossa classe dirigente ou pseudo intelectualizada.

Quero descrer que nossa bancada federal, nossos senadores e deputados federais, assim como nossos deputados estaduais, vereadores e demais atores políticos continuarão na postura silenciosamente omissa e vexatória quanto a este descalabro.

Quero descrer que o grupo empresarial que pretende instalar o Eisa não está comprometido com o desenvolvimento ambiental e social da região de nosso litoral sul, preocupando-se apenas com a lucratividade voraz de um capitalismo predatório e repugnante.

Quero descrer que o Eisa, jóia da coroa que é, seja mais uma barra de ouro de tolo na mão de incautos, ao estilo de fábricas de aviões ou de pólos cinematográficos que só existiram nas férteis mentes delirantes de conterrâneos arautos da pilantragem.

Quero descrer que a nossa gente será negada a oportunidade de contar com um empreendimento que, a princípio, gerará empregos e divisas trazendo, a reboque, distribuição de renda e de dignidade.

Quero descrer que as entidades de classe, estudantis, comunitárias e da sociedade civil irão nada fazer em defesa do estaleiro.

Quero descrer que nós, alagoanos por opção abnegada, estamos condenados à indigência perene.

Sem porto, sem âncora, sem mar e sem horizonte.