Nobel da Paz de 2003, Shirin Ebadi deu entrevista ao Estadão e afirmou o seguinte:

Estadão: Há também dezenas de mulheres presas atualmente no Irã. A sra. espera que Dilma Rousseff faça algo para ajudá-las?

Shirin Ebadi: Depois de 1979, uma série de leis discriminatórias contra as mulheres foram aprovadas no Irã. A vida de uma mulher equivale à metade da de um homem. Por exemplo, se um homem e uma mulher saem para a rua e são atacados, a indenização que a mulher receberá será o equivalente à metade da do homem. Na Justiça, o testemunho de duas mulheres equivalem ao de um homem. Um homem pode casar com quatro mulheres. E existem várias outras leis discriminatórias. A presidente eleita, como mulher, certamente não concorda com essas leis. E as mulheres iranianas tampouco as aceitam. Mas, quando elas protestam contra a legislação, são detidas por ter agido contra a segurança nacional, segundo o governo. As advogadas que as defendem também acabam nas prisões. Uma destas advogadas é minha colega Nasrin Soutodeh. Ela foi presa há dois meses. Desde o domingo, está em greve de fome. Estamos preocupados com a vida dela. Gostaria que a nova presidente do Brasil a ajudasse. Todas as mulheres, muçulmanas ou não, que cheguem ao Irã, têm de cobrir a cabeça. É uma lei estranha, pois quem não é muçulmana não precisa usar o véu. Por favor, diga à sua presidente, em meu nome, para ela não se cobrir com o véu se for ao Irã. Não precisa ter medo da lei no Irã. Por ser presidente, possui imunidade diplomática. Alguém precisa mostrar ao governo do Irã que esta lei não é correta.

Comento:

Dilma Rousseff certamente visitará o Irã. Diante de tal fato, uma pergunta se impõe. Ela usará o véu que as mulheres são obrigadas a usar naquele país? É que no Irã, como se sabe, as mulheres não têm os mesmos direitos que os homens e, além de outros absurdos, são obrigadas a usar um véu para cobrir a cabeça.

Recentemente mencionei nesse blogue a presença da jornalista Poliana Abritta, da Rede Globo que, ao fazer uma matéria naquele país, teve que se submeter às leis locais e usou o véu em pleno Jornal Nacional.

Manifestei meu repúdio, justamente porque, numa situação inversa, ninguém seria obrigado a tirar o véu se estivesse no Brasil. Classifiquei, assim, nossa sociedade, como uma sociedade tolerante, ao contrário do que ocorre hoje no Irã. Os multiculturalistas, por óbvio, não gostaram do que escrevi.

Agora é hora de Dilma Rousseff tomar uma decisão. Vai mandar seu recado ao regime autoritário de Teerã ou vai se submeter, mesmo estando lá como chefe de Estado, a essa lei claramente atentatória aos direitos das mulheres?


Leia a íntegra aqui.

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