Cerca de 4 mil inquéritos de homicídios aguardam conclusão em Alagoas.

Conclusão a qual, aposto, estes inquéritos dificilmente, ou mesmo jamais, alcançarão.

Aproximadamente 4 mil vidas que tombaram pelas mãos de assassinos até hoje desconhecidos oficialmente.

Famílias que desconhecem seus algozes. Justiça que ainda não se fez e que, por isso, é injustiça plena.

Serão agora de 4 mil e 31 inquéritos?

Lamento pensar e concluir que sim, uma vez que as mortes de moradores de rua em Maceió ameaçam entrar para o rol de crimes impunes em Alagoas.

Crimes impunes por uma política de inoperância.

Crimes impunes por uma política de desrespeito.

Inoperância na gestão da segurança pública.

Desrespeito ao elo essencial nesta operação: o policial.

O que penso é aplicável, com adequações, ao policial militar. Mas refiro-me especificamente ao policial civil, já que os inquéritos estão sob a alçada da Polícia Civil de Alagoas, nossa polícia judiciária.

Por que os reais e ao mesmo tempo simbólicos 4 mil e 31 inquéritos estão em aberto, aguardando resolução? Não porque o efetivo de policiais civis é composto de modo total por patifes, salafrários e preguiçosos. De jeito nenhum!

E sim por que nossa Polícia e nossos policiais civis são achincalhados e desmotivados pelos desastrosos governos que sucessivamente vem administrando Alagoas.

A analogia é possível: por que a Polícia Federal resgatou sua autoestima, sua eficácia, sua produtividade e sua imagem? Porque os agentes federais são bem pagos, bem preparados e têm melhores condições de trabalho.

Não há segredos, nem subterfúgios.

E em Alagoas, como as gestões públicas tratam os policiais civis?

Tratam como a escória do funcionalismo público.

Baixos salários diante da periculosidade da missão de correr atrás de bandidos e investigar crimes. Viaturas em cacos e pouco numerosas. Delegacias em frangalhos, deterioradas, desumanas. Equipamentos sucateados.

Igualmente, não há segredos, nem subterfúgios.

Dar prosseguimento às investigações de 4 mil e 31 inquéritos nestas condições rudimentares é tarefa humanamente impossível. Utilizar ferramentas tecnológicas e científicas neste esforço é uma tarefa de todo inalcançável.

Ainda mais quando quem deveria liderar e agregar, parece unicamente chefiar para desmerecer.

Quando quem deve dar o exemplo perde a grandeza da humildade e faz nascer o império da arrogância, pai e mãe da intransigência e herdeiro da desfaçatez.

Sim, há policiais civis que não honram o distintivo. Assim como há juízes que não honram a toga, médicos que não honram o juramento a Hipócrates e advogados que não honram as regras da profissão.

Porém, nestes e em quaisquer outros ofícios, felizmente, os farsantes e desonestos são minoria.

A maioria dos policiais civis de Alagoas são pais e mães de família com uma dura realidade. Já começam a ser acuados pelos criminosos como nas grandes metrópoles, já são obrigados a se rebaixar em "bicos" para sustentar suas famílias.

O que fazia um policial civil na faculdade privada que foi barbaramente assaltada nesta semana? Estudando não estava. Mas baleado foi!

Nossos policiais descem grotas no Jacintinho ou percorrem as ruas da Ponta Verde contra inimigos que se fazem onipresentes nestes tempos de desgoverno: a horda de bandidos que tomou conta de Alagoas, que ameaça nossas famílias, que nos faz viver em cárcere quase privado por falta de pulso firme do Estado e por escassez de políticas sociais, educacionais e culturais para a maioria.

Se fazem greve e exigem salário digno e condições de trabalho à altura do desafio deste estado campeão em violência, são tachados de baderneiros. Se não conseguem desempenhar suas funções por falta de condições infraestruturais e qualificação, são rotulados vagabundos.

E o governo que não oferta meios mínimos, dignos e encorajadores para a atuação profissional, deve receber qual nomenclatura desabonadora?

E há ainda a tese da inutilidade da Polícia Civil. Ora, se ela nada faz, melhor aniquilá-la.

E quem vai apurar os até minutos atrás cerca de 4 mil e 31 inquéritos de homicídio em aberto? Digo até minutos atrás porque com os alarmantes índices de criminalidade em Alagoas, esta marca há muito já deve estar defasada.

É necessário separar o joio do trigo, o justo do injusto, o santo do pecador.

Caso contrário, os 31 homicídios de moradores de rua serão somente mais um dado a engrossar as estatísticas.

E a figurar na história desalinhada de Alagoas como ícone da incompetência, da vilania, da crueldade e de nossa miséria em corpo, alma e ação.