Reeleito após uma campanha simbolicamente sangrenta, Teotonio Vilela Filho tem a partir de já inúmeros desafios.
E frente a estes, ouso traduzir em uma única imagem a alegoria de todas as batalhas que o governo tucano tem o dever moral de ver vencida ao final de sua gestão: o de proclamar o fim da figura dos porta-bandeiras da indigência.
Ronaldo Lessa também fez uso destas criaturas, que aos olhos de parcela de nossa elite hipócrita ou da desfaçatez de nossos gestores insensíveis ainda teimam em ser, simplesmente, seres humanos.
Aliás, muitos candidatos, diria até quase todos entre os mais abastados, utilizaram-se do artifício destes homens e mulheres maltrapilhos, empunhando as bandeiras da vergonha e o estandarte da humilhação nas ruas de nosso estado, em nossa orla, em nossa Maceió.
O vitorioso Teotonio Vilela Filho, eleito que foi, utilizou em demasia a mão-de-obra inconsciente destes cidadãos, tratados como de segunda classe pelas coordenações de campanha.
Emprego em contraposição e antítese ao discurso emancipador que as propagandas políticas se dispunham ou pretendiam disseminar. Um contra senso vulgar e repugnante.
Os porta-bandeiras da indigência são o retrato de um estado que desrespeita sua gente. Como os escravos no indigno mercado do tráfico negreiro dos séculos XVII e XVIII, suavam corpos mal cobertos em praça pública, em um espetáculo aviltante e explorador em busca da sobrevivência que se dá dia a após dia.
Em fila, em grupos, sob os olhares impassíveis e sem compaixão da maioria, trabalhavam por migalhas. Apoiados em varas, seus semi-pelourinhos, expunham, de modo crucial, a miséria de nossa Alagoas.
Educação, saúde, desenvolvimento, infra-estrutura, políticas sociais, segurança... palavras tão ao gosto dos marqueteiros tinham e têm sentido mais que abstrato e intangível para estes Josés, para estas Marias.
Motes, jingles, cores e logotipos para eles nada diziam ou dizem.
Apenas seguravam mastros, balançavam tecidos, ganhavam o pão.
Enquanto nosso futuro, de todos e os deles inclusive, era disputado em uma gincana publicitária, eles e elas guerreavam por um tão pouco contraditoriamente, e para si, tão muito.
Estes homens e mulheres e suas bandeiras são a alegoria de um estado ausente e falido em suas propostas de divisão de riquezas, se é que estas existiram algum dia.
E agora, Teotonio tem a esta dívida, tem esta obrigação, de realizar um governo que de tão do bem, sem olhar a quem, elimine de nossa paisagem estes entes a mim, desta forma, não queridos.
Jamais pelo extermínio covarde como o que já vitima nossos moradores de rua. Não pela inanição e mortandade que ceifa nossos bebês. Nunca pelo crack que desvirtua nossa juventude, pelos homicídios que massacram nossos jovens, pela exclusão e penúria infame que desonra nosso povo.
De modo algum pela incapacidade gerencial que engessa nosso governo, pela inércia que acomete nossos homens públicos, pelo escárnio que parece tomar conta da fisionomia dos eleitos.
Teotonio tem o encargo de fazer com que em 2014 estes pais e mães não tenham mais que se rebaixar a tão desprezível ofício de sustentar em seus braços o pendão da desesperança em tempos eleitorais.
Vilela tem esta chance histórica. Torço para que ele, mais uma vez e como todos os demais, não a desperdice.
Que daqui a 4 anos, sejam quem for os vencedores e os vencidos, a existência dos porta-bandeiras da indigência se destaque somente como mais um retrato doloroso na parede, como diz a poesia.
Retrato a doer, mas que por lembrança do que se deseja esquecer, seja a metáfora do que não se intenta nunca mais reviver ou sequer rememorar.