Quando os petistas começaram a atribuir o segundo turno a uma onda de “boatos” sobre Dilma ter defendido o aborto eu não entendi do que se tratava. Eu já sabia da posição de Dilma e do PT, abertamente favorável ao aborto. Então não se tratava de boato nenhum. Essa é uma típica pauta das esquerdas liberais. Eles veem o tema como uma questão relacionada com o direito da mulher e, portanto, desprezam a questão do ponto de vista do feto. Acreditam também que a proibição do aborto é uma intervenção ilegítima da Igreja sobre o Estado. Veja aqui a opinião de Dilma.

Acontece que Dilma teve que mudar seu discurso, pois parece que está mesmo perdendo muitos votos entre as camadas mais humildes da população. É que, para desespero dos liberais, a população brasileira é conservadora em vários temas. O aborto é um deles.

Mas o pior nem é ver Dilma mudar seu discurso pela conveniência eleitoral. O pior é ver a imensa maioria da imprensa desprezando o tema e acusando aqueles que são contrários ao aborto de “obscurantistas”. Colunistas “isentos” fazem o jogo do PT e afirmam que o debate é “baixaria eleitoral”. Alegam que o debate sobre o aborto é ilegítimo, pois seria uma intervenção da Igreja nos assuntos do Estado.

Quem diz isso, obviamente, é a favor do aborto. Quero dizer da sua legalização ou descriminalização. Mas, como sabem que a maioria dos brasileiros é a contra, querem deliberadamente evitar o tema. Se tivesse sido Serra a mudar o discurso?

Eu, particularmente, nem me considero um cara conservador sobre temas ligados à moralidade. Sou totalmente a favor de direitos iguais para homossexuais e tenho um posição favorável ao tratamento da questão das drogas também de um ponto de vista da proteção ao usuário. Mas sou contra a liberação do aborto.

Acho que a legislação brasileira já tem duas exceções importantes que, baseadas numa ética utilitária, escolhem acolher a vítima de estupro e defendem a vida da mãe em detrimento da do feto. Essas exceções bastam. O feto é sujeito de direito e deve ser protegido. Aborto, portanto, é crime.

E acho o debate extremamente importante! Que ele tenha surgido nas eleições mostra que a política e a moral são também temas de campanha. Cobrei aqui antes que parassem de interditar o debate político nessas eleições. Não se trata somente de economia. Valores precisam ser discutidos e devem ser tema de qualquer campanha eleitoral.

Se Dilma quer parar de discutir o assunto, que esclareça logo se é a favor ou contra a legalização. Sua ambiguidade sobre o tema mostra muito do seu caráter. Se sobre um tema tão importante ela não tem opinião firmada, como confiar em suas outras posições?

E para que não digam que me posiciono assim oportunamente, leiam o que escrevi há dois anos:

"Sobre minha aula de amanhã, no Congresso Acadêmico, mais do que expressar uma opinião sobre o aborto, quero abordar a questão de um ponto de vista moral e não simplesmente imediatista. A polêmica em torno do abordo não é uma questão de "saúde pública" ou de "liberdade de escolha", é um problema moral sobre o valor da vida humana e do conceito de sujeito de direitos.
Muito me incomoda o argumento segundo o qual a lei que criminaliza o aborto é inócua, e, portanto, deveria ser revogada. O absurdo deste argumento é que ele serve à revogação de qualquer crime, e ainda acusa os defensores dos direitos do feto humano de "hipocrisia".
O aborto é, sim, uma questão moral, e como tal deve ser tratada".