É inadmissível, é vergonhoso, mas nesta Alagoas campeã às avessas em estatísticas pouco abonadoras corremos o risco de fechar o ano com mais um número de estarrecer: somente em 2010, de janeiro a setembro, mais de 15 moradores de rua foram mortos, de modo vil, brutal e covarde nas ruas de Maceió.

Quantos serão até 31 de dezembro? Queira Deus e queiram os homens que o ímpeto dos assassinos se apequene. Enquanto isso, todos inertes, lemos as manchetes dos jornais que trazem esta estatística da desonra e da violação a um dos direitos mais primários e essenciais que é o direito à Vida. Pobres fantasmas da sociedade!

Porque o grito de indignação contra este ato genocida ainda ecoa tão tímido, ou simplesmente não ecoa nesta Alagoas repleta de amores, mas também de crimes? Com justiça, ambientalistas saem às ruas em defesa do verde, criadores de cães e gatos em defesa dos animais. Mas em honra dos ditos indigentes – muitas vezes vítimas do êxodo rural e da miséria e de um estado e de uma cidade que exclui no lugar de incluir – quem organizará uma passeata? Quem carregará faixas e cartazes? Quem formalizará algum movimento?

Triste constatação, sequer o poder público dá respostas acerca desta nova barbárie caeté. Talvez porque eles morem onde não mora ninguém. Mas eles vivem, amam, sofrem, têm seus sonhos, frustrações, desejos e fruições como eu, como você. Contudo a eles foi imposta uma pena invisível, que a omissão do Estado cruelmente lhes reservou. Esta é a condenação de mendigar pelas ruas, andarilhos sem esperança, com olhares à mira de armas, indefesos, alvos para bandidos.

A dignidade da pessoa humana, tão bela de se estudar e se defender como direito fundamental, não lhes proporcionou sequer um singelo funeral, ou mesmo uma pausa para uma oração, sublime e de fé, ainda que diminuta. A pena a eles aplicada foi a de morte, sem anjos ou protetores, ilegal no Brasil.

Pena sem condenação em tribunal, apenas sob o julgo algoz e vilão das ruas da injustiça. Pena de morte sentenciada diante da morte da pena, da ameaça de morte contra a justiça. Com rigor severo e canalha, em vítimas que tem nome ou sobrenome, que tem rostos e histórias de vida, mas de dignidade até agora por todos nós negada diante de nossa omissão.