Eu não me lembrava de como o debate político perdia consistência em ano de eleição. Na verdade, imaginava que as discussões eram mais densas e envolviam os temas de relevância da política nacional. Nada disso. Em ano de eleição prevalece o debate sobre estratégias eleitorais e pesquisas. Colunistas isentos (petistas) estão por aí adivinhando o final da eleição um mês antes de as urnas serem abertas. Ao invés de analisar os pontos divergentes dos diversos candidatos, falam de estratégias eleitorais e convertem o debate político em debate sobre publicidade eleitoral.
Colunistas isentos também são meros comentadores de pesquisa. Se as pesquisas dizem que Dilma está na frente, eles soltam rojões e comemoram apontando a “falta de rumo” na campanha dos adversários. Dão a eleição como decidida e começam a entrar para o time dos vencedores. A infantilização dos eleitores, que Marina Silva destacou, é tarefa dos isentos colunistas da nossa imprensa.
Mas a culpa disso é também dos candidatos. Afinal, do lado do PT, não há debate político. Dilma é só um produto eleitoral de Lula. Uma escolha pessoal. Um poste que ninguém conhece e será eleita porque “seu rei mandou dizer”. Qual a proposta política do PT? Qual a visão de país? Toda a campanha é sustentada pela aprovação ao governo Lula. Aprovação em alta não só porque ele foi esperto o suficiente para continuar tudo de bom que FHC fez, mas também em manter sob a dependência total do Estado uma quantidade imensa de famílias. O discurso do PT é só o velho populismo autoritário de sempre. Lula, o “pai do povo”, entrega o poder para Dilma, a “mãe do povo”.
E a oposição? Ao invés de mostrar a visão autoritária petista e escancarar as divergências com a candidatura Dilma, fazem um programa também focado na “continuidade”, como se o povo fosse idiota e não merecesse ouvir as divergências da oposição com Lula, Dilma e o PT. Além disso, os oposicionistas esquecem de seus próprios eleitores e apelam para uma visão personalista, de que Serra é melhor que Dilma, e isso bastaria para elegê-lo para suceder Lula.
E quais as divergências que podiam ser exploradas? Ora, são várias! O projeto do PT ameaça liberdades básicas como a de imprensa, o do PSDB, não. O programa de Dilma é tolerante com movimentos sociais que cometem crime, o de Serra não. A política externa de Lula é relativista e ideológica, além de fracassada, a que Serra propõe se baseia na defesa dos direitos humanos e na tradicional posição brasileira de não intervenção. O modelo de poder do PT se baseia no loteamento meramente político de cargos, o do PSDB se baseia na eficiência do Estado. O PT e Dilma defendem mais e mais impostos e do PSDB defende o inverso. Fora os temas morais como a legalização do aborto e as relações do PT com as FARC e a extrema esquerda.
Será que os eleitores não merecem saber disso? Aprovar o governo não significa votar em quem Lula manda. Se por acaso eles soubessem o que pode melhorar com Serra ou o que pode piorar com Dilma, poderiam escolher. Isso é eleitoralmente viável? Sinceramente, não me interessa. Afinal, se a maioria dos eleitores, sabendo de tudo isso, ainda assim entende ser melhor votar em Dilma, paciência! Isso é a democracia. Cabe à oposição continuar fazendo política e se apresentando como fiscal do governo. A oposição parece que quer perder tudo, além da eleição, a identidade.