Sul-coreanos e norte-coreanos relembram nesta sexta-feira os 60 anos da Guerra da Coreia (1950 a 1953) em meio ao retorno da tensão entre os dois países. Os desentendimentos recomeçaram após o naufrágio da corveta sul-coreana Cheonan, em 26 de março, matando 46 militares. Após longa investigação, a Coreia do Sul responsabilizou a vizinha pelo incidente frente ao Conselho de Segurança da ONU.

O regime comunista de Pyongyang rechaçou as acusações e ameaçou a vizinha do sul com represálias bélicas caso sofra sanções internacionais. Do outro lado, o presidente sul-coreano, Lee Myung Bak, advertiu que responderia com fortes medidas militares a qualquer provocação. Apesar da ameaça de um novo conflito, tecnicamente, as duas nações ainda seguem em guerra há 60 anos por nunca terem assinado tratado de paz.

A Guerra da Coreia teve início em 25 de junho de 1950, quando tropas coreanas iniciaram ataques de madrugada às posições de defesa da Coreia do Sul no chamado Paralelo 38 (linha demarcatória que divide os dois Estados).

Avisado do ocorrido por um telegrama da Embaixada dos Estados Unidos, o Departamento de Estado, em Washington, não sabia que se tratava do início de uma guerra em grande escala. Rapidamente, ficou claro para os americanos que a Coreia do Sul corria risco de ser anexada pelas tropas do norte, o que ameaçava a paz mundial pela importância geoestratégica da península asiática durante a Guerra Fria.

A Guerra da Coreia é considerada o único grande confronto militar da Guerra Fria, envolvendo forças militares americanas e soviéticas. Em 1950, os líderes norte-coreanos, incentivados pela vitória do socialismo chinês um ano antes, receberam apoio da União Soviética para tentar reunificar a Coreia sob o comando de um governo socialista.

Apoiada pelo regime comunista mundial, a Coreia do Norte avançou suas unidades militares, cruzando o Paralelo 38 e invadindo a Coreia do Sul, aliada dos EUA. As tropas obtiveram o maior êxito ao invadir Seul, a capital da vizinha do sul.

Imediatamente, os americanos solicitaram ao Conselho de Segurança da ONU que enviasse uma grande força militar, composta por soldados de 16 países. As tropas ocidentais fizeram resistiram e conseguiram reconquistar Seul, partindo então para uma investida contra o norte. A China, ao saber da ameaça do avanço das tropas aliadas, enviou reforços ao fronto, fazendo da Coreia um grande campo de batalha.

Após muitas batalhas violentas, um primeiro acordo de paz foi negociado em 1951, mas foi ratificado somente dois anos depois. O general americano Douglas McArthur, responsável pelo Exército das Nações Unidas, chegou a solicitar o uso de armas nucleares contra Coreia do Norte e China, mas acabou afastado do comando.

O conflito terminou em 27 de julho de 1953, quando os dois vizinhos assinaram um armistício em Panmunjon. O acordo manteve a península da Coreia dividida em dois Estados soberanos - condição que se mantém até hoje -, com mudanças mínimas na linha de fronteira. Mais de 3 milhões de pessoas morreram na guerra, entre elas 142 mil soldados americanos.

Segunda Guerra da Coreia?
A situação atual entre os dois países é muito diferente da que existia há 60 anos. Em 30 de junho de 1950, o general Douglas MacArthur constatou que as tropas sul-coreanas "não estavam preparadas para uma defesa" do país. Hoje, um novo ataque da Coreia do Norte à vizinha seria hoje uma missão suicida, pois as Forças Armadas da Coreia do Sul estão melhor preparadas e são tecnicamente superiores ao Exército Popular de Kim Jong-il.

Não há dúvidas, no entanto, sobre o perigo representado pelo potencial nuclear de Pyongyang e seus mísseis, capazes de golpear qualquer ponto na vizinha do sul. Além disso, milhares de peças da artilharia estão apontadas para Seul, que fica a apenas 50 km da fronteira.