Aos 48 anos, o ator Frank Menezes colhe os louros de uma carreira focada em uma só coisa: seu talento. Atualmente nos cinemas como o introspectivo Curió em Quincas Berro D’Água, filme de Sergio Machado, ele já aguarda ansioso a estreia prevista para o segundo semestre de mais um longa do qual participa: Capitães da Areia, de Cecília Amado, no qual faz uma participação especial como o delegado que quase consegue prender o menino Pedro Bala, o líder do bando de pivetes mais famoso da literatura nacional.

Nascido em 12 de fevereiro de 1962 em Monte Serrat, bairro debruçado sobre o mar da Cidade Baixa de Salvador da Bahia, o ator tem relação antiga com a obra do conterrâneo Jorge Amado (1912-2001). O primeiro livro do autor que leu foi Mar Morto. Demorou meses para acabar, porque ficava imaginando demais e perdia o fio do meado da história.

A adaptação de outra obra de Amado, a minissérie O Compadre de Ogum, feita pela Globo em 1994, tornou Menezes conhecido em todo o Brasil - ele interpretava o padre possuído pelo orixá. O trabalho lhe abriu portas, sempre com Amado à espreita: o filme Tieta, de Cacá Diegues, em 1996, e a minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, na Globo, em 1998.

- Fazer sempre coisas de Jorge faz parte dessas maravilhosas coincidências do destino. Somando cinema e TV, fiz cinco histórias dele e me orgulho muito disso.

Como as filmagens de Capitães aconteceram ao mesmo tempo em que as de Quincas, Menezes precisou contar com a benevolência dos diretores para trabalhar nos dois filmes.

- O diretor de arte, Adrian Cooper, era o mesmo nos dois filmes. Então ele me deixou manter o bigode que usei em Quincas em Capitães também [risos].

Curió deu trabalho a Menezes. O personagem caladão e zarolho do olho esquerdo exigiu grande esforço do ator.

- Treinei tanto que só ficava zarolho na hora em que o diretor gritava ação.

A arte sempre fez parte do cotidiano de Menezes, filho de mãe pianista. Dessa forma, não foi surpresa para a família quando ele resolveu estudar desenho na Universidade Católica e também fazer o Curso Livre do Teatro Castro Alves – e, depois, a faculdade de Artes Cênicas da Ufba (Universidade Federal da Bahia).

- Tive sorte de nascer em uma família que sempre me deu a maior força. Vivo até hoje de teatro de uma forma muito natural.

Menezes conquistou crítica paulistana

Apesar das incursões na TV – na qual também atuou na minissérie A Pedra do Reino, em 2007 – e no cinema, é no palco que Menezes se sente como ninguém. Assim que terminou os estudos teatrais, criou o grupo Artes & Manhas. Depois integrou a Cia. Baiana de Patifaria, e foi um dos responsáveis pelo grande sucesso de A Bofetada, que projetou o humor – e o teatro – baiano no país inteiro.

- O sucesso foi tanto que começou a me dar aflição. O espetáculo estava roubando todo o resto do teatro. Então, resolvi sair e fazer o monólogo Quem Matou Maria Helena.

E deu certo. Levada para São Paulo, a peça arrebatou a crítica do grande centro cultural do país. Mesmo conquistando o difícil mercado paulistano, Menezes resolveu voltar à Bahia, sua terra, onde tem seu lugar garantido.

- A cena teatral baiana é pequena quando comparada a São Paulo. Mas aqui tenho um espaço que é meu, que eu conquistei.

Sua aventura mais recente no palco é o monólogo O Indignado – e foi sua interpretação nessa peça que garantiu seu lugar em Quincas e em Capitães.

Avesso aos rótulos tão comuns na TV, Menezes prefere contar apenas com o talento que, aos baianos, como diz a música de Gilberto Gil, Deus deu.

- Com esse meu perfil, não vão me colocar para fazer par com a Carolina Dieckmann. O que conta no meu caso é só o talento.