Quero expor uma coisa que me deixou pensativo sobre os rumos do discurso pelos direitos humanos. Por onde passo repito que, apesar de nutrir uma simpatia pelo discurso da filosofia pragmática, entendo que sua visão antiessencialista é perfeitamente compatível com um discurso de fundamentação dos direitos humanos.
É que eu posso defender as pautas valorativas da cultura dos direitos humanos sem ter que, necessariamente, encontrar para elas uma justificação absoluta. Posso, portanto, encarar a importância do contexto histórico na formação desses valores mas, a partir daí, defender tais valores como importantes para a construção de um mundo mais digno.
Sendo assim, abandono explicitamente o discurso relativista. Por isso não sou simpático também ao multiculturalismo.
Hoje na aula discutimos a respeito disso e de como o discurso multiculturalista pode levar à intolerância. É que o discurso multiculturalista pode me levar a tolerar a intolerância!
Eu posso tolerar qualquer manifestação cultural, desde que ela tolere a minha. E a minha cultura se baseia na tolerância. Não é um jogo de palavras. Para algumas culturas a tolerância não é um valor. Nesses casos, o outro não me tolera.
Lembrei de ter visto a repórter da Globo Poliana Abritta, no Irã, cobrindo o tal acordo (que piada) sobre questões nucleares. A bichinha foi obrigada a usar um lenço para cobrir a cabeça, coitada. Seria o equivalente de exigir de uma repórter iraniana que, no Brasil, deixe de usar o mesmo lenço. Já imaginou?
Nós, obviamente, não faríamos isso. Nós somos tolerantes, eles não. É por isso que eu tenho que recusar o discurso multiculturalista e dizer claramente que, nesse aspecto, nossa cultura é melhor do que a deles. Nós temos a tolerância como parte integrante da ética democrática. Aceitamos o outro em sua diferença. É isso que nós podemos ensinar, eles não.