Num pequeno trecho de seu discurso, Serra resume toda a tese que deve embalar o discurso da sua candidatura para Presidente do Brasil. Ele afirma a simples verdade de que tudo que há de avanço no país é uma continuidade de respeito à democracia e à estabilidade econômica e, portanto, não se trata de obra de um homem só.
“Nos últimos 25 anos, o povo brasileiro alcançou muitas conquistas: retomamos a Democracia, arrancamos nas ruas o direito de votar para presidente, vivemos, hoje, num país sem censura e com uma imprensa livre. Somos um Estado de Direito Democrático. Fizemos uma nova Constituição, escrita por representantes do povo. Com o Plano Real, o Brasil transformou sua economia a favor do povo, controlou a inflação, melhorou a renda e a vida dos mais pobres, inaugurou uma nova Era no Brasil. Também conquistamos a responsabilidade fiscal dos governos. Criamos uma agricultura mais forte, uma indústria eficiente e um sistema financeiro sólido. Fizemos o Sistema Único de Saúde, conseguimos colocar as crianças na escola, diminuímos a miséria, ampliamos o consumo e o crédito, principalmente para os brasileiros mais pobres. Tudo isso em 25 anos. Não foram conquistas de um só homem ou de um só Governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos orgulhar disso”. (íntegra)
A tese da candidatura de Serra, portanto, confirma duas coisas. Em primeiro lugar que o PT também participou dos avanços do país, apesar de sempre tentar atrapalhar um pouco. O PT manteve algo que já tinha sido conquistado com FHC e isso é muito bom. Aliás, somado às conjunturas econômicas, é isso que faz o governo de Lula ser tão aprovado. No entanto, a tese também desmistifica o passado e coloca o PSDB no seu lugar: o de protagonista dos avanços do país. Tudo bem, é um exagero, mas faz parte da campanha. Deixando de lado os excessos, a tese é bem mais verossímil do que a de Dilma, ou não? A tese que embalará a candidatura da “doutora” Dilma é a de que tudo de bom no Brasil começou com o PT. Dilma, mais uma vez, mente.
Mas e o futuro? O que Serra pretende fazer? Na economia, parece que não há muita coisa a mudar. Afinal, trata-se das mesmas bases que o PSDB já criara. Para o futuro, de acordo com seu discurso, Serra sinaliza que pretende evitar o fisiologismo e os atentados à impessoalidade que tanto caracterizam o governo do PT e que, com certeza, seriam característicos de um governo da “doutora” Dilma:
“O governo deve servir ao povo, não a partidos e a corporações que não representam o interesse público. Um governo deve sempre procurar unir a nação. De mim, ninguém deve esperar que estimule disputas de pobres contra ricos, ou de ricos contra pobres. Eu quero todos, lado a lado, na solidariedade necessária à construção de um país que seja realmente de todos”.
Um “país realmente de todos” e um governo que não sirva a “partidos e corporações”. Seguindo essa linha, Serra poderia começar o governo, caso vença, diminuindo pela metade o número de ministérios. Isso significa investir contra o “Estado máximo” do PT, que serve a seus apadrinhados. A promessa de Serra é o Estado servindo ao povo e não ao partido. Para mim, isso já basta para justificar o voto em qualquer um que não seja na “doutora” Dilma.