Procurei a explicação para a morte violenta da menina Isabela Nardoni e não encontrei; dizer que é falta de Deus no coração é simplório demais para um crime tão bárbaro. E, também, porque a madrasta é evangélica e ora três vezes ao dia – logo, tem Deus no coração.
Claro, o Deus dela não é o meu Deus; não é o Deus verdadeiro.
Dizem que está perdoada, pois se arrependeu, e vai para o céu. Graças a Deus não existe céu nem vida eterna e a besta-fera tem de pagar pelo crime aqui mesmo, porque o verdadeiro Deus colocou no caso uma delegada honesta, peritos competentes e um promotor eficiente.
Uma criança de 5 anos de idade é espancada, esganada e atirada do sexto andar de um edifício pelo próprio pai. Vítima de uma madrasta ciumenta e de um pai-monstro, Isabela foi imolada severamente pela besta-fera.
Sartre ensina que não se deve falar da natureza humana, mas da condição humana, para explicar as reações pessoais. Mas, no caso da besta-fera, as condições em que foram criadas é a melhor possível – são de classe média alta; a besta-fera não é negra, pobre e favelada. Pelo contrário: é branca, rica e mora em bairro nobre.
Assim, só a Teoria de Lombroso pode explicar o crime. Observando o perfil da besta-fera comprova-se a Teoria Lombrosiana – o rosto triangular, o queixo saliente e o olhar sem brilho. A besta-fera chora sem lágrimas.
A Teoria de Lombroso foi relegada, mas, assim como a condição humana de miserabilidade não transforma todos os miseráveis em bandidos, há de se entender que a possibilidade de alguém já nascer criminoso existe.
Do contrário, como explicar o médico Osmani – que seria hoje o segundo Ivo Pitangui, se não estivesse preso numa cela pagando pelos crimes que praticou?
Como explicar a besta-fera rica que mata a própria filha?
Se alguém tem uma explicação, por favor, que apresente porque é preciso entender melhor essa condição humana.