Nesta segunda-feira, 8, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Sabe-se que no começo o poder era apenas materno e os pais eram todos os homens da comunidade, pois não havia casamento nem unidade familiar com base na figura paterna. E, obviamente, a mulher era livre.

Também não havia religião nem pecado.

Era o comunismo primitivo, que durou até a revolta dos machos – que se proclamaram mais fortes e decretaram que a mulher é sexo frágil.

Os homens fizeram a lei e impuseram a ordem pelo convencimento ou pelas armas; não se conhece na história antiga nenhuma generala ou jurista.

Com a revolta dos machos inventaram a religião, que inventou o pecado, que atrai pecadores, que se penitenciam e voltam a pecar porque o pecado é coisa dos homens.

E com a religião, o pecado e o exército o homem dominou a política e deixou a mulher sem direito a votar – e no Brasil isto durou até depois da Proclamação da República.

Analisando a Bíblia sem sectarismo pode-se comprovar que essa revolta dos machos se ampara na religião. Vejamos:

Não foi Adão que traiu a confiança de Deus, mas Eva – que induziu Adão a comer a maça proibida. A primeira mulher no mundo é apresentada pela Bíblia como traidora e ingênua – que é capaz de cair na conversa de qualquer um; no caso de Eva, na conversa da serpente.

A primeira mulher, de acordo com a Bíblia, traiu a confiança de Deus e traiu também Adão por não lhe ter contado sobre a conversa com a serpente.

Depois, a Bíblia relata sobre a mulher de Abraão e esse relato é de um absurdo que não consigo digerir. Vejamos:

Abraão apresenta a esposa ao rei como sendo a irmã e o rei vai transar com ela. Quando descobre a verdade chama Abraão e dá-lhe uma lição de moral por negar que aquela bela mulher era sua esposa.

O rei também dá muito ouro e bens para Abraão, como recompensa por ter-lhe colocado um par de chifres – e Abraão aceita; logo é o primeiro corno-gigolô da história. É ou não é?

Com isso, a Bíblia mostra a mulher volúvel e cúmplice. Quer dizer que a mulher é vulgar e submissa; que aceita confirmar a mentira ou esconder a verdade – e tanto faz. Ao aceitar ser apresentada como irmã, quando era na verdade a esposa, essa mulher é interesseira e, por dinheiro, vai para a cama com qualquer um.

Depois, a Bíblia trata das sete filhas que embriagaram o pai para poder transar com ele; e o pai transou com as sete filhas – absurdo que hoje levaria alguém a proclamar: é o fim do mundo!

E não é não.

Foi no começo do mundo, segundo consta na Bíblia, para mostrar que a mulher é capaz de tudo; capaz até de transar com o próprio pai. Capaz de todos os pecados!

Com a revolução dos machos a mulher foi relegada. O homem sabia quantos camelos ou quantos carneiros possuía, mas não se sabia quantas mulheres existiam. Contavam-se bichos para o censo, mas não se contava as mulheres.

Quando os romanos convocaram o censo populacional era para contar apenas os homens. Daí, Maria não precisava ter ido a Nazaré porque mulher não era recenseada; não se contava a mulher como gente.

Mas, mesmo grávida Maria decidiu acompanhar o marido e Jesus nasceu em Nazaré. E sabe quem quebrou o tabu contra a mulher? Foi Jesus.

Jesus contrariou a tradição, a moral e os costumes vigentes e trouxe Madalena para perto dele. Ouvia o que Madalena dizia e, na época, ouvir a opinião de uma mulher era afronta até para os apóstolos que seguiam Jesus. Muitos reagiram.

O apoio de Jesus a mulher, na pessoa da Madalena, aguçou a ira dos que lhe perseguiam e irritou os apóstolos, pois no particular de manter a mulher submissa, todos concordavam – e a exceção foi Jesus.

Mas, em nada adiantou atacar Madalena; quanto mais falavam dela, mais Jesus lhe dava vez e voto. E quando foram lhe dizer que se tratava de uma pecadora, Jesus reagiu com o clássico: atire a primeira pedra quem nunca pecou!

O Evangelho de Felipe, que o Cristianismo não considera por razões óbvias, assegura que Jesus beijava Madalena na boca.

E quem não beijaria? Madalena deveria ser uma mulher inteligente, bonita e sedutora; e Jesus tem bom gosto, pois mau gosto quem tem é o diabo.

O homem não pôde impedir Madalena de entrar para a história, mas conseguiu deixá-la com a reputação de ter sido prostituta. Santa Prostituta!

E qual o motivo de a mulher ser tratada assim?

É que só a mulher foi feita 100% à semelhança de Deus; sem a mulher não se procria e essa é a parte de Deus que falta ao homem. E o homem, de sacanagem, inventou que a mulher foi feita de uma costela dele só para dizer que já pariu também – com ajuda de Deus, claro.

Dir-se-á que sem o macho também não se procria e é verdade; mas, tratamos aqui da identificação maior com Deus – que é exatamente o dom de criar e procriar; o dom de gerar e trazer a luz na completa concepção de Gênesis com o seu Fia Lux!

A mulher tem o dom do Fiat Lux que o homem não tem. É isto.

Mas, para a Bíblia, a mulher é sempre a culpada. Adão comeu a maçã – culpa da Eva, que foi na onda da serpente.

Abrão entregou a mulher para o rei transar com ela – culpada da mulher de Abraão, a quem o rei indenizou com ouro e bens.

Finalmente, as sete filhas deixaram o pai bêbado e foram transar com ele – culpa das sete filhas, acometidas de furor uterino. Umas vadias, pois a mulher é também vadia para a Bíblia. Umas devassas!

Mas, não liga não porque tudo isso é coisa dos homens. No fundo os homens sabem que vieram lá de dentro da mulher e sobreviveram do leite dela.

Nesse dia 8 de março o blog saúda todas as mulheres do mundo. Saúdo minhas filhas Thaísa e Débora; minhas netas Júlia e Cecília e, especialmente, saúdo a filha de dona Ana e seu Joaquim – que é a Maria, mãe de Jesus, e sogra de Madalena.

E lembro-me da toada, acho que é de Vavá Machado e Marcolino, que diz assim:

Se não houver mais gado /
Terei um desgosto profundo /
Se não houver mais cavalo /
Será meu desgosto segundo /
Mas, se não houver mais mulher /
Deus pode acabar o mundo!