Vítima de pequeno furto na casa de praia em Paripueira, o cidadão foi se queixar na delegacia local. Pela enésima vez levaram-lhe a bomba hidráulica.
Em frente à delegacia, ele desistiu da queixa ao ler no pára-brisa traseiro do carro de um policial o adesivo festejando os números da violência.
Não sei-quantos homicídios! Ôba!
Não sei-quantos assaltos! Viva!
Honestamente, nunca se matou tanto em Alagoas – concluía o adesivo. O cidadão vítima de furto desistiu da queixa; sabiamente concluiu que seria apenas mais um número nessa estatística do quanto pior, melhor para a campanha na eleição de 2010.
Sim, porque existe a polícia que trabalha e a polícia que faz política. Oficiais e praças da PM, inclusive ex-comandantes, e agentes e delegados da Civil já se aventuraram em busca de mandato eletivo – e alguns se deram bem; outros continuam tentando.
Essa divisão na polícia é a primeira violência contra a sociedade; as demais violências vêm como via de conseqüência. E esse não é um problema apenas de Alagoas; infelizmente não é.
Para agravar a situação, o poder público perdeu a guerra para as drogas; o Estado reproduz a imagem do cachorro mordendo o próprio rabo. Prende hoje e amanhã tem mais, no processo repetitivo.
A situação é séria e não deve ser tratada como bandeira eleitoreira ou de luta de classe. Nem a cadeia comporta tantos presos, nem o cemitério publico tantas mortes.
Mas, a solução não está na mudança do comando; só uma política pública séria, em nível nacional, pode dar jeito ao tráfico – que encabeça o ranking da violência.
Não por coincidência, o flagelo das mortes se dá em maior número na periferia – que foi para onde o poder público levou os rebotalhos sociais do êxodo rural.
Maceió é uma ilha cercada de favelas.
E as favelas são produtos da inoperância do poder público. E sendo o ser humano o animal com capacidade para fingir não ver o que está vendo, o problema foi ganhando dimensão. Deixaram o monstro crescer e agora se sentem incomodados.
O cidadão se diz incomodado porque a violência ronda sua casa
O policial se diz incomodado porque a violência aumentou.
Estamos todos condenados a conviver com a violência, enquanto a segurança pública estiver fragmentada; enquanto o poder público não reparar a omissão –que permitiu a violência se alastrar.