Há 11 anos um crime chocou o País pela selvageria. Na verdade, quatro crimes numa noite e no mesmo cenário; quatro corpos estendidos no chão e crivados de balas – e entre eles o corpo da deputada federal Cecy Cunha.
A empreitada sinistra foi urdida com sagacidade; uma versão estapafúrdia foi difundida pela figura emblemática e problemática conhecida pelo apelido de Chapéu de Couro.
Eu acompanhei o caso como repórter e estranhei a saída do delegado federal Gustavo Gominho – que prendeu Chapéu de Couro em São Paulo e mergulhou com competência na elucidação dos crimes.
O delegado da Polícia Federal contou aos jornalistas na sede antiga da PF, no Sobral, que viajou até Arapiraca para conhecer a família de Chapéu de Couro. O delegado Gustavo Gominho não acreditava na versão de Chapéu de Couro e estava perto de desvendar o caso quando foi afastado.
Na despedida, ele deixou a porta do gabinete do superintendente entreaberta e dirigiu-se aos jornalistas. Desabafou para duas autoridades policiais que estavam no gabinete. Antes, pediu para os cinegrafistas não filmarem; depois entendi que era não flagrá-lo chorando – e o delegado Gustavo Gominho chorou ao desabafar:
- Prendi o senhor Maurício (Chapéu de Couro) em São Paulo e apresentei a vocês. Deixei que vocês perguntassem o que quisessem. Eu estou nesse caso para ajudar a esclarecer, mas não aceito que ninguém venha interferir no meu trabalho.
Dito isto – que registrei na época no jornal onde trabalhava – o delegado Gustavo Gominho se despediu; ele deixou claro que o curso da investigação iria mudar – e mudou mesmo; o inquérito contém erros primários numa investigação de crimes desse quilate, tais como:
1) Não quebraram o sigilo bancário e telefônico da deputada Cecy Cunha
2) Não apresenta as provas materiais do crime, ainda que defina os acusados como réus confessos – quem confessa o crime não tem mais necessidade de esconder as provas.
3) Não investigaram com mais profundidade Chapéu de Couro, e assim prevaleceu a versão estapafúrdia que ele difundiu e que apontava como vítima outro deputado federal – que escapou graças a delação de Chapéu de Couro.
Quando conto 11 anos fico a imaginar se a morosidade se deve a fragilidade do inquérito. Nesse caso, a morosidade da Justiça pode ser a forma de não se fazer injustiça. Não me cabe julgar, mas cabe duvidar diante da falta de explicação no afastamento do delegado federal Gustavo Gominho.
E também pelas falhas primárias de omissão, ao não quebrar o sigilo bancário e telefônico da vítima.
Interessante é que dos nove deputados federais que seriam diplomados no dia da morte de Cecy, apenas ela e o deputado Olavo Calheiros comparecerem.