Nunca fiz a divisão entre animal racional e irracional, ainda que seja negativa a premissa da Lógica que afirma: o homem é um animal, o cavalo é um animal, logo o homem é um cavalo.
Mas, se levarmos em consideração as reações de alguns humanos que traem, que armam ciladas, que falam mal do próximo e que matam e não comem podemos dizer que a irracionalidade é mais latente no homem.
Deixando a profundidade de lado, dois casos reforçaram essa concepção de racionalidade para todos os bichos.
Sábado estava em Penedo e meu cunhado teve de sacrificar o He-Man, um pastor alemão que estava sofrendo com uma doença incurável. Era velho e todos sentiam seu sofrimento, principalmente minha irmã e minha sobrinha Nalvinha.
Meu cunhado trouxe a veterinária e o He-Man pressentiu que sua hora tinha chegado; ele associava a veterinária às vacinas e aos remédios que aplicava e não gostava dela – e latia muito sempre que a via. No sábado foi diferente; foi como entendesse que era preferível morrer à sofrer com tantas dores – e quedou-se para o sacrifício.
Foi comovente.
Na manhã desta terça-feira passei na casa de minha outra irmã, na Rua Pedro Américo, e encontrei o clima fúnebre:
- A Bíbi morreu atropelada. Foi esquartejada. Deixei a porta aberta e ela saiu para a rua – contou-me minha irmã.
Minha sobrinha Wanessa chorava; minha outra sobrinha Débora, de 7 anos, estava triste. Meu cunhado levou o que restou da Bibi para enterrar na casa de praia no Sauaçuí.
Estávamos resignados quando alguém bateu à porta. Era o Pinga-Fogo, o Pé-de-cana e o Bota-uma, os três traziam a Bíbi sã e salva.
Ufa! Milagre!?
Não. A Bíbi tinha caído no canal que corta a Pedro Américo e não conseguiu sair. Quem morreu foi outra cadela da mesma raça e cor.
É a segunda vez que a Bibi apronta; da primeira vez foi preciso chamar o Corpo de Bombeiros para retirá-la do canal.
E sabendo que tinha aprontado novamente, ela voltou cabreira; tão cabreira que não latiu e permaneceu todo o tempo desconfiada. Só latiu quando a Wanessa veio abrir a porta para que eu pudesse sair.
Latiu para mim como se quisesse pedir desculpas ou, então, advertir-me: cuidado para não cair também no canal.
A Nalvinha em Penedo precisa substituir o He-Man, que morreu de velho; e a Wanessa precisa dizer a Bibi que pare de pegadinhas.