A série de reportagens desenterrando defuntos contra o senador Fernando Collor de Mello (PTB) deixa algo no ar; quem conhece o procedimento da mídia nacional tem razão de sobra para desconfiar.

A Folha de S.Paulo levanta a bola e o Globo amortece e dá seqüência – ainda que seja para requentar matérias vencidas.

A ex-primeira dama Rosane Malta decide falar tardiamente e se mostra recalcada; tudo o que disse apenas depõe contra ela mesma. Amiga de uma ex-macumbeira que virou evangélica, isto mostra o nível baixo que Collor se livrou.

Nada tenho contra macumbeiros nem evangélicos, mas sigo a máxima do grande Alceu Valença quando disse: eu desconfio dos cabelos longos de sua cabeça, se você deixou crescer de um ano pra cá.

Ou seja: desconfio de quem abre mão da autenticidade; desconfio de quem renega as suas convicções.

Mas, uma coisa é certa: essa série de reportagens necrológicas não é gratuita – tem algo por trás. O que é? Esse é o xis da equação que pode ser formada assim: Collor ainda preocupa a mídia golpista.

Será que a mídia imagina que Collor pode sair candidato a presidente da República?

E não brinquem não porque, se Collor disputar novamente a eleição para presidente não fará feio; ele pode não se eleger, mas será muito bem votado e no segundo turno vão precisar dele – seja quem for o mais votado, se do PSDB ou do PT.

Digo isto porque fui testemunha de um episódio, em 2002, que me chamou a atenção. Eu viajei com o filhe dele, Joaquim, e o Inácio Ferreira – hoje cinegrafista da TV Gazeta – para Petrolina e Juazeiro-BA. Estávamos num carro particular. Na volta, eu pedi para dirigir o carro, enquanto o Inácio foi descansar no banco traseiro.

Minha habilitação estava vencida, mas na ida notei que havia uns 200 quilômetros sem posto policial. E vim dirigindo o carro. Mas, não contava com uma blitz do BOPE da Polícia Militar de Pernambuco postado logo após a lombada, antes de Floresta. Não deu para parar o veículo e me desvencilhar do volante.

O sargento se aproximou e eu contei-lhe a verdade; ele pediu o documento do veículo e, para piorar a situação, o Inácio esqueceu os documentos em Maceió. Aí foi demais; o sargento vociferou:

- Um não tem habilitação e o outro não tem o documento do carro. Desce todo mundo para revista! Ordenou o sargento, enquanto chamava o tenente comandante da operação.

Ficamos eu, o Inácio e o Joaquim postados para a revista. O sargento revistou o Joaquim e depois falou para o tenente, em voz baixa:

- Esse garoto parece com alguém que eu conheço.

Eu ouvi a observação do sargento e o indaguei também falando baixo:

- Sargento, o senhor falou para o tenente que ele (apontei o Joaquim) parece com alguém que o senhor conhece. Eu posso saber quem é essa pessoa que se parece com ele (Joaquim)?

E o sargento respondeu:

- Parece com o Collor.

Aí eu aproveitei:

- Pois ele é filho do Collor.

O sargento deu meia volta e gritou para o tenente:

- Tenente, não disse, é filho do Collor!

Moral da história: o tenente nos liberou na hora e ainda ligou para o posto policial de Floresta pedindo para nos deixar passar sem abordagem.

Quem sabe, a mídia golpista está desenterrando defuntos porque sabe que se o Collor decidir se candidatar a presidente da República mostrará que o mito não morreu e que a mídia nacional não tem a credibilidade que imagina ter.