Hoje é o dia do Funcionário Público e, como tal, gostaria de externar algumas experiências.
Ingressei no Serviço Público no dia 30 de junho de 1986 no cargo de motorista policial da Polícia Civil de São Paulo. A denominação do cargo mudou logo em seguida para agente policial, permanecendo as mesmas atribuições e salário, ou seja, mudou somente o nome. Mas a categoria encarou isso como uma grande vitória.
O salário era o menor dentre as demais carreiras da instituição, pois um investigador de polícia ganhava o dobro e o delegado vários dobros.
Então fiz concurso para investigador, na esperança de posteriormente ser delegado, melhorando assim o salário e não precisar mais fazer “bicos” de segurança para poder pagar as despesas domésticas e a faculdade de direito.
Voltando ao assunto; o Governo do Estado mudou – saiu Franco Motoro e entrou Oréstes Quércia. Aí começou meu inferno – Deus que me perdoe! Pensem num cabra de peia!
O Montoro tinha uma política voltada para o funcionalismo, enquanto o tal do Quércia veio pra botar pra empenar em cima de nós.
Lembro-me de um plano econômico cujo reajuste salarial era fixado pelo índice de inflação medido num período pequeno de meses, pois a inflação era galopante e quando ela atingia 20%, “disparava um gatilho”. Tão lembrados disso?
Pois é! Tinha gatilho pra todo mundo, menos pro funcionário público.
Que sofrimento meu Deus! Como eu sonhava com o disparo de um gatilho. Vê se pode?
Vi vários colegas se definhando no álcool e nas drogas como fuga para o estado de penúria a que foram submetidos. Alguns suicídios também ocorreram.
Depois do caos instalado na máquina administrativa, o governador resolveu dar aumento. VIVA!!!
Então o espertão agiu da seguinte forma: contemplou os que ganhavam o piso com um percentual muito maior que os demais, dando a sensação de governar para os menos favorecidos. Assim o salário de agente policial encostou no de investigador e este no de delegado.
Esses governantes espertos chamam isso de aumento escalonado. Com essa política, de nada adiantou a minha qualificação e ascensão ao cargo maior, pois meu salário foi achatado, bem como de todos que tinham um cargo melhor.
Isso nós chamamos de nivelar por baixo. Incrível como esses governantes gostam de usar essas artimanhas!
Com essa política salarial nefasta, o tal do Quércia deu início à decadência do funcionalismo público no Estado de São Paulo, basta ver quanto ganha lá um delegado de polícia, um professor e um médico. Nem é bom falar!
Políticos como Quércia e os demais que agem com os mesmos modus operandi não estão nem aí para nossas dores e agonias. Estejamos nós na qualidade de Servidor Público ou Povo.
Esse relato me trouxe mágoas e pensamentos, não publicáveis, que tive naquele passado tenebroso de funcionário público estadual.
Quem é funcionário público por vocação sabe do que estou falando. A nossa dedicação quase nunca é reconhecida. Pós-graduação, capacitação, esmero no trato com a coisa pública, pontualidade, abnegação... nada disso tem valor para grande parte da população e principalmente para alguns governantes. Nos tratam como preguiçosos, ineficientes e corruptos, jogando-nos numa vala comum.
A esmagadora maioria dos funcionários públicos não comunga com esses adjetivos. NÃO SOMOS ISSO!
Graças a Deus, as lutas pessoais e sindicais, hoje estou contente com meu salário e condições de trabalho na minha amada Polícia Federal, mas sei que a qualquer mudança de governo isso pode mudar.
Ser Funcionário Público é um sacerdócio!
Só nós sabemos de nossas agonias e só nós nos importamos com elas...