No livro Curral Novo, romance regional do escritor alagoano Adalberon Cavalcante Lins e lançado em 1958, o personagem principal, o fazendeiro Jerônimo Cordeiro, se desentende com o vaqueiro chamado Generoso.

Apesar do nome, o vaqueiro não era nada generoso e partiu para cima do fazendeiro; armado com um facão ia matá-lo quando dona Zefinha, esposa de Jerônimo, apareceu e acertou o vaqueiro com um tiro certeiro de espingarda.

Um escândalo. Dona Zefinha, uma dona de casa avessa à violência; religiosa e de aparência frágil – e quem diria! – teve coragem de matar. Foi um gesto de solidariedade ao marido, sem dúvida, mas um crime.

Todavia, dona Zefinha não podia aparecer no inquérito. Imaginem a mulher de Jerônimo Cordeiro respondendo a processos! E aí entrou em cena o coronel João Cordeiro, tio de Jerônimo, que acertou tudo com o delegado Clementino e o inquérito foi concluído sustentando que o vaqueiro morreu de Sucesso.

E o que é morrer de Sucesso?

Sucesso nesse caso não é êxito profissional, mas impunidade. No inquérito policial significava que não se havia chegado à causa nem ao autor do crime. Diz-se significava porque caiu em desuso, a partir da década de 50, mas isto não quer dizer que todos os crimes são apurados.

A tese do desembargador aposentado Fernando Tourinho é esclarecedora. Advogado criminalista com larga experiência, Tourinho sustenta que : se o crime de mando não for esclarecido em dez dias, é porque não será apurado nunca.

E isto não é coisa só de Alagoas; é uma tendência mundial.

No caso do estudante Fábio Acioly, que morreu devido às conseqüências de ter o corpo queimado, a seqüência de erros contribuiu para o desfecho do inquérito – que chega à Justiça pela metade.

Primeiro, um parente da vítima se apressou para dizer que Fábio tinha sido seqüestrado e aproveitou para atacar o governo do Estado – que não garante segurança pública. Disse até que, no mesmo dia, além de Fábio outras cinco pessoas tinham sido vítimas de seqüestro – e não era verdade.

Depois, a polícia se apressou para dizer que tinha gente grande envolvida no crime. Portanto, não foi a imprensa que especulou os fatos.

Mas, antes concluir que a vítima morreu de Sucesso a condenar inocentes.Não é?