Prezados políticos das Alagoas:
Meu pai criou o Estado das Alagoas convencido de que agiu corretamente; que de sua decisão surgiria um Estado progressista, administrado por políticos sérios e honestos. O que de melhor havia ao Sul de Pernambuco, meu pai reservou para o novo Estado.
As melhores terras. No subsolo tem minério de ferro, sal-gema, petróleo e gás natural em abundância - a maior reserva de gás dissociado do petróleo, do País! No Agreste tem até Vanádio, o minério branco que o Brasil nem sabia que possuía – e do qual depende para a produção de semicondutores de energia à indústria da informática.
Na terra, em se plantando tudo brota. Da cana-de-açúcar de Caiena ao coco das Filipinas; do fumo do Caribe ao milho do México; da banana de Honduras ao leite da vaca da Holanda; a terra das Alagoas dá frutas, verduras e legumes, mas, por culpa de vocês, maus políticos, só tem dado mesmo é raiva.
Água tem até demais; são mais de 50 lagoas – e são tantas as lagoas desta terra que o nome do Estado não poderia ser outro; teria de ser mesmo Alagoas.
Praticamente não existe semi-árido em Alagoas, e se a população sertaneja alagoana sofre à falta d´agua a culpa é de vocês, políticos, que nada fizeram nesses quase 200 anos de criação do Estado. O município sertanejo mais distante da margem do Rio São Francisco está a menos de 100 quilômetros em linha reta – e ainda assim vocês nada fizeram para mitigar a sede dos nossos irmãos sertanejos alagoanos.
Por quê?
Por que vocês nada fizeram pelo Estado que meu pai criou e que eu também tanto ajudei? Fui eu que garanti a Maceió a condição de segunda capital brasileira a possuir telefone automático; fui eu que construí a ferrovia partindo de Piranhas e que vocês deveriam levá-la até Santarém, no Pará, completando o traçado da Ferrovia Transnordestina – que, graças a Deus, o presidente Lula está tocando.
Fui eu que construí um colégio (Bom Conselho, em Bebedouro) para os órfãos filhos dos heróis da guerra do Paraguai – que vocês destruíram para beneficiar o ensino particular. Fui eu que doei a fazenda para os índios Wassus, de Joaquim Gomes, em recompensa à partição deles na Guerra do Paraguai.
Poderia estar revoltado com os alagoanos, porquanto fui traído e humilhado por alagoanos a quem ajudei a ser gente; a quem dei poderes e patentes; a quem recebi em minha casa e tratei como filho. Mas, não guardo mágoas.
Não sei se por ironia, mas eles me embarcaram para o exílio num paquete chamado Alagoas e eu até brinquei dizendo-lhes:
- Já que estão me levando para Alagoas, então me deixem em Penedo!
E, por falar em Penedo, cuidem dessa cidade histórica porque ela é a Ouro Preto do Nordeste; é a segunda cidade mais antiga do País! Cuidem do Rio São Francisco – que vocês destruíram enquanto eu mandei buscar um engenheiro na Europa, especialista, para tratar da sua preservação.
Infelizmente, não me deixaram tocar esse projeto. Fui vítima dos covardes que, pelo visto, não atingiram apenas a mim e a minha família. Meu neto morreu louco diante da covardia que fizeram comigo, mas eu os perdoei.
Mas, imploro para vocês: não mintam mais; não subtraiam mais nada deste Estado, em tenebrosas transações. Podem usar meu nome em vão, como fizeram nesses 150 anos de minha passagem por aí a caminho da Cachoeira de Paulo Afonso, mas, pelo amor de Deus não destruam um Estado que meu pai escolheu com tanto cuidado e que eu tanto prestigiei e ajudei.
Atenciosamente,
Pedro II.