A Universidade Estadual de Ciências da saúde (Uncisal/AL) forma por ano cerca de cinqüenta médicos. Boa parte deles vem de outros Estados ou acaba indo fazer residência fora de Alagoas. Após concluírem o curso, a baixa remuneração dos profissionais no Estado e a qualidade inferior das especializações contribuem para isso, além deles não encontarem grandes perspectivas de emprego aqui.

Apesar de ser estadual, a Uncisal, assim como as demais universidades brasileiras, tem um vestibular público, permitindo que qualquer pessoa concorra à vaga. O fato do curso de medicina ser um dos mais disputados em todo o país faz com que a procura seja ainda maior, principalmente por candidatos de outros Estados, que ás vezes passam anos se preparando e se inscrevem em várias seleções.

Segundo o pró-reitor de graduação da Uncisal, José Antônio, a migração de pessoas, inclusive de outras regiões para fazer medicina em Alagoas é algo normal, embora a maioria volte para o lugar de origem depois que conclue o curso ou procure fazer residência fora.

O fato de um médico ganhar aproximadamente 1015,00 por 20h de trabalho semanal também aumenta a dispersão.

“O processo é aberto, apesar da universidade ser estadual e isso não acontece só aqui. Muitos dão continuidade aos estudos ou recebem propostas de emprego atrativas, com salários mais altos e vão embora. Um médico ganha pouco em Alagoas para o que as pessoas esperam da profissão.Se a nova Lei Federal sobre o piso salarial já estivesse valendo, melhoraria a situação”, explicou o pró-reitor

A estudante do 2° ano de medicina e integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Uncisal, Fernanda de Macedo Ferreira revelou que a sua turma é uma das que mais tem estudantes alagoanos, já que nas anteriores à mudança do vestibular havia muitos estudantes que vieram de outros Estados.

“A prova da Uncisal acontece em janeiro e nesse período os vestibulares das universidades federais já passaram, por isso muita gente vem pra cá tentar medicina e também porque tem cursos preparatórios específicos, como na Bahia. Conheço um estudante que veio de Aracaju. A remuneração também faz o médico recém-formado ir embora, inclusive para fazer residência, já que aqui a maioria não é muito conceituada”, destacou a estudante.

Ela afirmou que há perspectivas de trabalho em Alagoas, principalmente no Programa de Saúde da Família (PSF), mas que mesmo ganhando mais, os médicos não se interessam porque precisam ir para o interior. “A situação da saúde aqui é caótica e para conseguir uma qualidade de vida boa ficando na capital é preciso trabalhar em vários horários. Em outros lugares o campo é maior. Pretendo ir para outro Estado, mas ainda não sei qual”, afirmou.

Piso salarial

No mês de junho a Comissão de Trabalho da Câmara aprovou o PL 3.734/08, do deputado Ribamar Alves (PSB/MA), alterando a Lei 3.999/61, regulamentando o piso salarial dos médicos e cirurgiões-dentistas em R$ 7 mil. Assim, o salário-mínimo dos médicos, será fixado num valor horário de R$ 31,81.

O texto ainda será examinado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e se for aprovado e não houver recurso contra a decisão da CCJ, a matéria segue direto para apreciação do Senado.