Nos meus 35 anos de profissão já vi muitas coisas; já cobri algumas tragédias humanas, mas nenhuma chocou tanto igual a que a sociedade assiste agora – uma mãe em gesto tresloucado matou dois filhos.
Mas, também me choca ouvir alguém culpar o candomblé; quem age dessa forma é desonesto. Não sigo religião porque religião é negócio – que é dinheiro. Mas, não sou ateu e creio, sobretudo, no poder santo da mulher – que Deus fez 100% à semelhança Dele, pois só a mulher procria; o homem é só 50% de Deus.
Todavia, culpar o candomblé é torcer favorável à tragédia; é o mesmo que vibrar com o massacre e culpar os dois filhos inocentes por terem nascido.
A mãe se sentia rejeitada e esse sentimento de rejeição a fez transferir o ciúme para os filhos – que dormiam com o pai, enquanto ela dormia no outro quarto, sozinha.
Na noite da tragédia ela pediu para dormir com os filhos. Usuária de droga legal tinha às mãos o Rivotril – que é uma droga devastadora; o viciado em Rivotril festeja o estado de torpor – que é o barato dessa droga química legal.
A culpa não é da pomba gira; a culpa é do Rivotril – que é uma droga pior que cocaína, maconha e álcool; o bêbado vai dormir, o maconheiro vai comer, o viciado em cocaína vai conversar e o viciado em Rivotril sai às ruas para roubar ou matar.
Vamos deixar de hipocrisia. De ordinário, a polícia apreende crack, maconha, cocaína e Rivotril, Rouphynol...
É uma tragédia que precisa ser contada sem o sensacionalismo barato. É preciso entender que a acusada estava sob cuidados médicos – e é comum a droga química legal levar o paciente (viciado) à loucura. Aliás, na gíria os pacientes psiquiátricos são chamados de xarope – uns viram neném, outros viram uma fera. Lembram-se do filho do Hélio Graece, campeão de lutas marciais, em São Paulo? Era xarope e estava sob cuidados psiquiátricos.
Numa situação igual a esta ninguém precisa de remédio; precisa é de conversa. E foi assim que Nise da Silveira descobriu talentos, onde os outros viam loucos.