No século 8 antes de Cristo, a grande reforma religiosa imposta por Zaratrusta estabeleceu o culto ao Deus único, mediante o ensinamento de que Deus era o Bem e lutava incessantemente conta o Mal - que existe dentro de cada um de nós.
- Cabe a cada um – ensinou Zaratrusta – praticar o Bem para que Deus vença o Mal.
A reforma religiosa de Zaratrusta imposta oitocentos anos antes de Jesus nascer permanece atual até hoje; católicos, evangélicos, espíritas, mulçumanos, judeus, enfim, todas as religiões estão calcadas na reforma de Zarastrusta – que também era conhecido como Zoroastro.
Esse princípio do Bem e do Mal assimilado pelo Cristianismo, Islamismo, Hinduismo e Judaísmo teve em 1286 um expoente que a História mantém desconhecido para a maioria. Trata-se de Ramon Llull, autor do Livro das Bestas.
Muita gente não conhece e não leu Ramon Llull, mas todos já ouviram alguém dizer que Deus é a verdade. Portanto, quando alguém diz: Deus é a verdade, este alguém está apenas repetindo o que Ramon pronunciou pioneiramente há mil e oitocentos anos.
No Livro das Bestas, Ramon Llull coloca os pecados dos homens nos animais; ele narra a peleja do Leão para ser rei.
Ramon Llull disse que existe o medo bom e o medo ruim, e que o confronto foi estabelecido para que a verdade prevaleça sobre a mentira – e Deus é a verdade. No Livro das Bestas o autor traça o paralelo no reino animal, com a divisão entre racional e irracional.
Rico, de família nobre, Ramon virou monge; foi cristão fervoroso e peregrino e influenciou reis e papas – mas, morreu aos 84 anos decepcionado com governantes e religiosos.
Livro das Bestas narra o episódio do Leão, rei das Selvas, ao descobrir que a raposa estava lhe traindo. Chamou a raposa a sua presença e ela negou; a raposa negou a traição e apresentou o coelho e o pavão como testemunhas de que não havia traído.
Ao ouvir o relato das duas testemunhas, o Leão rugiu estridente; o coelho e o pavão se assustaram.
Moral da história: o coelho e o pavão temiam a raposa e aceitaram mentir por isso – e esse é o medo ruim. Mas, ao ouvirem o rugido estridente do Leão foram acometidos do medo bom – que os levaram a contar a verdade, ou seja, a raposa traiu mesmo o Leão.
É o confronto estabelecido para que a verdade – que é Deus – prevaleça, conforme sentenciou Ramon.
O Livro das Bestas mostra os efeitos da paixão humana, a intriga, a ideologia, o adultério e a mentira. Ao transpor os pecados do homem para os animais classificados como irracionais, Ramon Llull mostrou que entre estes não existe ideologia, credo, classes e funções sociais.
Ou seja, o Bem e o Mal são coisas dos homens – que, assim falou Zaratrusta, cabe a cada um de nós administrar.
(Post à propósito do gesto tresloucado de uma mãe que se sentiu rejeitada e foi ao extremo, porque deixou o Mal vencer o Bem)