Doente, já sabendo que o câncer no pâncreas era irreversível, o ator Patrick Swayze, que morreu esta semana, deu uma entrevista emocionante. Foi a sua última entrevista. Ele falou da vontade de vencer a doença, de continuar vivo e do amor eterno à sua mulher, Lisa Niemi.

O último seriado, os últimos dias no rancho da família, a última entrevista. Patrick Swayze sabia que a vida estava por um fio. Tinha câncer de pâncreas, um dos mais raros e complicados, mas resolveu enfrentá-lo de peito aberto.

Quando descobriu a doença, em janeiro de 2008, logo abriu o jogo com os diretores do seriado que gravaria meses depois. Ficou irritado ao ver a notícia nos tablóides e muito surpreso ao saber que estava mantido no papel de um policial linha dura.

Àquela altura, o cinquentão de Hollywood já tinha conquistado muita coisa. Graças ao supergalã dançarino, foi considerado o homem mais sexy do mundo. Virou também símbolo de romantismo na parceria com a atriz Demi Moore.

Mas depois de nove meses em silêncio, perdeu a paciência quando tablóides disseram que ele tinha só cinco semanas de vida. "O que eu disse foi: 'vão pro inferno! Prestem atenção no que eu vou conseguir!"

E assim decidiu contar sua história à jornalista Barbara Walters. "Não tenho a menor ideia do que vou dizer. O que eu sei é que eu quero falar diretamente", ele disse de improviso. "Tem muita coisa acontecendo. Sim, estou com medo, sim estou irritado, sim eu me pergunto: ‘Porque eu?’ e coisas assim."

Por que Patrick Swayze? Era o mesmo que perguntavam fãs do mundo inteiro em cartas de apoio. E logo um dos piores tipos de câncer!

O pâncreas é responsável pela produção de hormônios. Fica praticamente escondido entre o estômago e a espinha dorsal. Por isso, o câncer de pâncreas demora muito a ser diagnosticado e quando aparece, normalmente, já está muito avançado.

"Ele já estava no estágio quatro. E só existem quatro estágios", disse George Fisher, o médico que cuidou do ator. "O tempo de sobrevida do câncer de pâncreas é de apenas alguns meses”.

Patrick nasceu nas terras áridas do Texas. Cresceu dançarino por influência da mãe e foi para Nova York à procura de trabalho. É verdade que só fez dois filmes de grande sucesso, mas foi o suficiente pra merecer o título de astro - e ganhar uma estrela em Hollywood.

Quando o alcoolismo virou um problema, buscou refúgio no rancho, na Califórnia, nos braços de Lisa Niemi, com quem foi casado por 34 anos. Os dois viviam grudados, mas não tiveram filhos. “É como se fôssemos almas gêmeas, acredito nisso”, ele diz. “Parece que nos conhecemos em outra vida e viemos para esta juntos”.

Lisa, chorando, desabafa: "Não consigo deixar de pensar como seria minha vida sem ele, mas acho que só vou descobrir quando isso acontecer”.

Eles sabiam que a briga era difícil. Patrick tratava o câncer como se fosse um vilão nas telas do cinema. "Sou muito especifico e muito explícito, e digo: ‘seu filho da p... você não vai me vencer!’”

Mas Swayze sabia que uma vitória definitiva era praticamente impossível. "Você luta contra um monstro usando veneno. Quanto daquele veneno seu corpo pode receber e continuar funcionando?". Apesar de pouco eficiente contra o câncer de pâncreas, o tal veneno - a quimioterapia - ainda é o recurso mais indicado. Foi o que o ator fez.

Agora, na semana em que Patrick Swayze morreu, surge uma nova possível arma. Quatro institutos de pesquisa dos Estados Unidos anunciaram bons resultados com uma vacina contra o câncer.

A vacina, por enquanto, não traz nenhuma promessa de cura, mas abre novos horizontes para o tratamento de vários tipos de câncer. É mais ou menos como criar um exército dentro do nosso corpo, treinado pra identificar as células cancerígenas e programado pra destruir.

"Pela primeira vez, mostramos que uma vacina pode ser eficaz contra o câncer", diz o autor da pesquisa Douglas Schwartzentruber, médico do Instituto do Câncer de Indiana.

No estudo, 22% dos pacientes que receberam a injeção tiveram o tempo de vida aumentado. Parece pouco? “É mais que o dobro do que acontece com os tratamentos atuais”, explica.

Os pesquisadores acreditam que as vacinas se juntarão a outras terapias pra melhorar a qualidade de vida dos doentes dos vários tipos de câncer, até o de pâncreas, que matou Patrick Swayze.

"A vacina é mais eficiente do que a quimioterapia porque enquanto a quimioterapia é um tipo de veneno que acaba atingindo partes saudáveis do corpo", explica o médico, "a vacina ataca especificamente as células de câncer".

Em sua difícil caminhada, Patrick Swayze deu sinais de cansaço. Emagreceu muito, mas, curiosamente, não perdeu um fio de cabelo no tratamento. Se ele tinha medo? "Seria confiante demais ou estúpido se dissesse que não. Sim, tenho medo", ele admitiu. "Mas uma coisa que não vou fazer é ficar perseguindo uma forma de ficar vivo. Se você passar o tempo todo procurando maneiras de sobreviver você não vive. Entende? Eu quero viver!"

Depois de quase dois anos lutando contra o câncer, Patrick Swayze morreu esta semana ainda acreditando no que disse um de seus personagens mais famosos, em um filme que teve suas cenas mais emocionantes no terceiro andar de um edifício em Nova York.
Foi no filme Ghost. Uma cena romântica que entrou pra história do cinema. Primeiro, um grande amor. Depois, a morte repentina. E um espírito apaixonado que não consegue abandonar a mulher. Quando Molly finalmente ouve a voz de Sam, ele se despede. “O amor que você tem dentro, você leva junto com você".

Em sua última entrevista, Patrick usou quase as mesmas palavras. "Tudo o que você leva dessa vida é o amor que você sente". Mas se ele levaria o amor, queria também deixar coisas boas por aqui.

"Quero sair daqui sabendo que eu tentei dar algo em troca, que fiz algo que valesse a pena. Meu trabalho é meu trabalho, é o que eu faço, é meu legado, ele dizia.

Foi o que disse e o que deixou.