A cada dois anos o País gasta uma fortuna para promover eleição, e a cada eleição a decepção é maior que o número de candidatos, de votos e, consequentemente, de eleitores.

Era de se esperar que um País que gosta tanto de eleição, já tivesse pronta a legislação eleitoral. Não tem; para cada eleição faz-se uma legislação específica, sob encomenda, cuja preocupação não é aperfeiçoar o processo, mas garantir o status quo.

Existem no Congresso Nacional várias propostas para o pseudo processo democrático-eleitoral brasileiro, mas nenhuma – eu disse nenhuma – se refere ao voto facultativo. E por que os políticos insistem em manter o voto obrigatório?

Ora por quê?!

Porque o voto facultativo iria exigir que os políticos mentissem menos e trabalhassem mais; iria exigir que os políticos fossem menos corruptos. É verdade que o voto, em qualquer circunstância, dá margem a que se eleja o engodo, mas com o voto obrigatório o patife tem mais chance de se eleger.

Na década de 70, a campanha pelo voto nulo atingiu mais duramente o regime de exceção do que todo o movimento guerrilheiro rural e urbano; do que toda a reação da chamada esquerda – que se sabe agora, na verdade, é de direita.

É muito inocente, ou então é agente do status quo cumprindo tarefa de moralista, quem espera do Congresso Nacional algo diferente do que se aprovou recentemente em relação à próxima eleição. A censura à Internet, a imunidade para o ficha suja antes mesmo de ele se eleger, tudo isso é perfeitamente normal.

Anormal é o eleitor que continua concordando com o voto obrigatório. Dizer que o eleitor escolhe mal os candidatos é outra desculpa do inocente ou do agente do status quo cumprindo tarefa. Ora, se até hoje ninguém apresentou projeto tornando o voto opcional, é porque todos se nivelam por baixo; todos necessitam da aberração para se eleger.

Quem aceita participar de um processo eleitoral escroto é porque é escroto também, independente de sigla partidária.

Mas, independente deles, ou seja, independente da lei e do Congresso Nacional, o eleitor pode interferir drasticamente no processo. Como? Simples: no dia da eleição vá para a praia, viaje, fique em casa ou faça outra coisa, menos ir à seção eleitoral votar. Depois pague a multa – o valor é uma merreca.

Igual a campanha do voto nulo na década de 70, a repercussão de uma abstenção eleitoral acima dos 50% do eleitorado – bastaria isso, nem precisa 100% - transformaria a política brasileira para sempre.

É besteira pelejar; ninguém muda sem antes ter experimentado a tragédia – e a abstenção eleitoral de 50% seria a maior tragédia da política nacional. Pense nisso e faça você mesmo a sua própria lei, porque a voz e a vontade do povo são a voz e a vontade de Deus.

Agora, se você acredita que pode mudar pelo voto; se você ainda acredita que pode mudar alguma coisa com esse processo eleitoral viciado, das duas uma: você também acredita em Papai Noel, Sacy Pererê e Caipora; ou é o verdadeiro ficha suja.

PS - Do contrário,  continuarem sob a definição do grande filósofo José Simão, da Folha de S. Paulo, sobre o nosso Congresso Nacional:

Se gradear vira zoológico.
Se murar vira presídio.
Se colocar lona vira circo.
Se colocar luz vermelha vira puteiro.
E se der descarga não sobra um.