E deu-se então o que estava escrito nas estrelas: a guerra da Rede Globo com a Record. O que a Bandeirantes e o SBT não conseguiram em tanto tempo no ar, o bispo Edir Macedo atingiu em curtíssimo espaço de tempo graças a deus – o deus dele, que permite ser manipulado.

Deixando a profundidade de lado, ou seja, o deus que ajudou a Record a crescer, o que interessa é a briga em horário nobre numa verdadeira novela da vida real. A crise fabricada no Senado está minguando na pauta e a gripe suína só tem destaque quando o atichim leva alguém ao hospital.

O jornalista Carlos Melo, diretor e editor do cadaminuto, definiu bem a briga dizendo que daria uma na outra e não queria retorno. Concordo.

Confesso que não sou muito chegado à televisão, pois sofro de sonolência diante de alguns programas. O jornalismo televisivo não me empolga, porque sei que existem ali armação e montagens que conduzem a notícia ao telespectador – e não o inverso. Chico Buarque já disse que a televisão é máquina de fazer doido.

Ainda bem que a Internet chegou para proporcionar a opção de informação segura, rápida e inédita sem a preocupação de ter de assistir o noticiário da TV.

Mas, é fato que a era da Globo está chegando ao fim e isto é perfeitamente natural - tudo que sobe desce. A Globo é produto do golpe de 1964, cresceu com os governos militares e tenta agora desesperadamente se manter na ponta da tabela. O problema é que não tem mais os generais e o poder é alternado; não tem mais a regalia do privilégio hegemônico, porque a Record está no ar com todo gás, tapete de fogo e óleo ungido.

Como Edir Macedo conseguiu tão cedo abalar a estrutura da Globo, essa é outra história e, ainda que não seja uma história de todo louvável, não difere muito dos métodos utilizados pela Globo para atingir o poder que atingiu. Na verdade, uma não pode falar da outra. Todavia, nem tudo é ruim.

Há de se destacar o papel da Globo na nacionalização da linguagem e dos costumes, o que ajudou a consolidar essa noção de nação continental com uma linguagem única.

Às 19 horas as pessoas do Acre ao Rio Grande do Sul estão fazendo as mesmas coisas, que é se sentarem diante do aparelho de televisão para assistir novelas.

A diferença agora – e aí preocupa a Globo – é que esse costume tem no controle remoto a opção de mudar de canal. O que antes era só na Globo, hoje também está na Record.

E o deus que permite ser manipulado garante o faturamento inédito à Record durante o horário da madrugada, quando o custo do comercial cai para menos da metade – exceto na Record. Enquanto a Globo fatura R$ 40 milhões por mês na madrugada, a Record fatura mais de R$ 200 milhões com os pastores-mascates de deus.

Mas, dá dinheiro quem quer; acredita na farsa quem quer. É uma questão de livre arbítrio. O meu Deus condena isso, mas existe outro deus por aí cobrando 10% pela passagem para o céu – e acredita nisso quem quer.   

É ou não é?