Até o começo da década de 60 comprava-se maconha livremente no mercado público de Maceió, com o sugestivo nome de remédio pra dor de mulher. Receitava-se o chá da maconha para aliviar os incômodos da Tensão Pré-Menstrual – a famosa TPM. Era uma prática muito antiga – que é incapaz de se definir quando começou.

Mas, veio a repressão policial disseminada em todos os níveis. Era de se esperar que, com tantas polícias caçando maconha, a planta seria exterminada e a droga banida do País. Qual o quê?! Deu-se o pior; o que antes era só maconha hoje é maconha, cocaína, heroína, LSD, ecstase, merla e, Ave-Maria, Ave-Maria, o crack – a droga mais devastadora já inventada até hoje.

Isto, sem falar no Rivotril, Gardenal 010, Rophynol, Citoplégico – que são drogas lícitas vendidas em farmácias, que apropriadamente também se chamam drogarias.

Apesar da repressão policial, a produção aumentou porque o consumo cresceu; apesar da repressão policial, o consumo cresceu estabelecendo a diversificação da produção – da maconha ao crack e daí só o Diabo sabe até onde.

Essa situação não é peculiar do Brasil. A diversificação e o aumento do consumo é registrado mundialmente. Isto significa dizer que só um País, a Holanda, está livre das conseqüências do tráfico. E se o problema é o traficante, a sociedade holandesa saiu na frente livrando-se do estorvo.

O deputado Fernando Toledo contou que ficou estarrecido em Berlim, quando desceu do metrô e ao atravessar o túnel se assustou com um grupo de jovens alemães se drogando. A diferença para os guetos da periferia das cidades brasileiras estava apenas na epiderme.

Em Boston, a cena dos veteranos da Guerra do Vietnã tornou-se comum. No final do mês, centenas deles vão ao hospital para a revisão médica. Uns mutilados, outros paranóicos fumando maconha abertamente na rua; eles invadem o hospital, as cafeterias, lojas e não estão nem aí. No Vietnã o exército dos Estados Unidos permitiu o uso da maconha, porque lúcido não dá para encarar a guerra.

E agora surgiu a droga mais devastadora que a humanidade já produziu – que é o crack. É uma droga tão devastadora, que nem os traficantes do Rio de Janeiro conseguiram barrá-la. E os traficantes cariocas fizeram de tudo para impedir a entrada do crack no Rio, porque é um tipo de droga de consumo compulsivo, atrai problemas para a área e atrapalha outros negócios.

Na década de 80, deu-se o fenômeno das latas grandes de Leite Ninho cheias de maconha – que deram costa nas praias cariocas, para alegria da rapaziada. O genial Gilberto Gil compôs a música Novidade, para registrar o fenômeno, e a imprensa divulgava a versão policial errada – que dizia terem sido as latas atiradas ao mar por um navio fugindo ao flagrante.

Nada disso; as latas de Leite Ninho cheias da maconha foi a última tentativa dos traficantes cariocas para impedirem a entrada do crack no Rio. Eles imaginavam que, fazendo o derrame, abarrotaria o mercado e desviaria o interesse pelo crack. Não deu certo e o crack de estabeleceu.

Na semana passada, dois fatos marcaram profundamente o combate às drogas. Um se deu nos Estados Unidos, quando a mais importante Organização Não-Governamental norte-americana para o combate às drogas jogou a toalha e recomendou ao presidente Barack Obama legalizar o comércio. A conclusão da ONG é ainda mais contundente: só os esquimós não produzem maconha.

O outro fato deu-se no Brasil, com a revelação da pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) e encomenda pelo Ministério da Justiça. A pesquisa concluiu que 77% dos presos condenados como traficantes, na verdade, não são traficantes.

O mais grave é que esses presos primários, que não tem nenhuma relação com os verdadeiros traficantes, se especializam na cadeia em outros crimes; se organizam e, aí sim, passam a agir como traficantes, pois foram graduados e pós-graduados pelo Estado.

O pensamento do ator Wagner Moura, que fez o papel do capitão Nascimento no filme Tropa de Elite, é cada vez mais real. Ele disse que a legalização não acaba com as drogas, mas acaba com o tráfico – e todo o problema é o traficante.

É imperioso que a sociedade discuta o problema das drogas a partir desses dados concretos, especialmente o que se refere à inoperância e ineficiência dos métodos utilizados até agora na repressão – que não conseguiram atingir o objetivo e ainda levaram ao aumento do consumo e à diversificação.

É preciso entender que a droga é tão antiga quanto a Bíblia. Nabucodonossor, personagem bíblico que libertou os judeus do cativeiro na Babilônia, fumava uma erva (maconha) e, em êxtase, rastejava se dizendo serpente. Washington, a capital dos Estados Unidos, foi construída em duas grandes fazendas de maconha, que pertenciam a Thomas Jefferson e George Washington; na Carolina do Norte existe o movimento Vote Hemp (Vote Maconha); no Canadá, o governo está estimulando o plantio de maconha para substituir o milho na produção de etanol.

Entre os que reagem à legalização estão quatro tipos:

1) Os que são contrários por desinformação.

2) Os religiosos, que são contrários para preservarem os dogmas da igreja.

3) A autoridade corrupta, que fatura em cima do comércio.

4) O profissional preocupado com a restrição ao mercado de trabalho, uma vez que o traficante é um ativo valioso no Processo Penal.

Se existe outra saída para a questão da droga, diferente da que foi proposta pela ONG ao presidente do Estados Unidos, que alguém apresente.