Na entrevista concedida à agência de notícias Reuters, o senador Fernando Collor de Mello (PTB) deixou claro dois desejos:
1) Que pode disputar a presidência do Senado Federal.
2) Que pode disputar novamente a presidência da República.
O primeiro desejo é novidade, porque Collor somente agora no Senado é que parece estar finalmente afinando-se com a atividade parlamentar – Collor não gostou da experiência na Câmara, quando foi deputado.
Ele chegou ao Senado ressabiado, licenciando-se várias vezes do mandato; todos os seus suplentes assumiram a vaga e se mais suplente houvesse, além de dois, teriam todos assumidos.
Collor foi apeado da Presidência da República num golpe sórdido tramado pelos adversários que derrotou fragorosamente nas urnas, e não lhe perdoaram a humilhação. Ulisses Guimarães, candidato pelo maior partido de oposição na época, o PMDB, ficou em sétimo lugar – uma vergonha para o partido e o candidato.
O impeachment foi na verdade a vingança do status quo nacional, que se sentiu ameaçado quando Collor chamou os automóveis nacionais de carroças e abriu o mercado nacional às importações; se hoje é possível comprar computador e celular em supermercados, isto se deve ao Collor.
Collor também mandou invadir a Folha de S. Paulo, apreendeu
um trem com contrabando de cimento
Também mandou o presidente nacional da OAB estudar, tentou montar a partir do Paraná uma rede nacional de televisão, desdenhou da classe política – que ele tratava sempre na defensiva e não ouvia ninguém.
Correndo nas pistas de Brasília – ele era o atleta; acampando na selva amazônica num curso do Exército sobre sobrevivência – ele era o herói; e vencendo a barreira do som num caça da Força Aérea – ele era o super-homem. E pior que se achava mesmo o tal.
O Fiat Elba, veículo que se tornou pivô da crise que levou Collor ao impeachment, poderia ter permanecido no anonimato dos serviços que prestava – o Fiat Elba servia à cozinha da Casa da Dinda; era nele que os empregados abasteciam a despensa.
Os jornalistas de plantão na Casa da Dinda foram surpreendidos com mais uma decisão repentina de Collor – que estava em casa e havia avisado que não iria sair mais, e decidiu o contrário.
Alguns jornalistas degustavam os petiscos que Collor mandava por à mesa farta, na área externa; outros sorviam doses de uísque Longan 12 anos, quando, de repente, o veículo oficial da Presidência da República sai da garagem em desembalada, seguido por batedores da Polícia do Exército em motocicletas.
- É ele! O Collor saiu. Corre! Corre!
Os jornalistas correram para os carros de reportagem, mas quatro deles entraram no veículo que estava mais próximo – e era justamente o Fiat Elba. Sem costume de dirigir carro de reportagem, o motorista ficou nervoso e sobrou na curva da estrada de barro – era de barro – no acesso da rodovia que liga Brasília a Fortaleza à Casa da Dinda.
O motorista sobrou na curva e bateu num ipê à margem da estrada de barro. Ele e os quatro jornalistas saíram apenas com alguns hematomas, mas nada grave. Collor soube que o Fiat Elba tinha colidido, mas não sabia que neles estavam alguns jornalistas que cobriam o dia-a-dia do presidente.
Collor mandou comprar outro Fiat Elba e aí começou a trama do impecheament. A conclusão sobre a história do primeiro presidente da República eleito diretamente após 1964; o mais jovem e o que se elegeu por um partido inexpressivo, é que o Fernando foi vítima do Collor.
Redescoberto pelo ex-amigo e novamente amigo, Renan Calheiros, ele começa a tomar gosto pela atividade parlamentar. Em 1979, quando se iniciou na política, viajou para o Rio de Janeiro com o então governador indicado, Guilherme Palmeira, na condição de secretário da Indústria e Comércio, e retornou como prefeito de Maceió – que na época era indicação do governador, que era indicação do governo militar.
Collor tem em Renan o abre-portas no Senado e Renan tem em Collor a carta final na manga, para o caso do jogo sucessório em Alagoas virar e não contar com o apoio do governador Téo Vilela para se reeleger ao Senado.
Renan já sabe que a questão é: seja quem for o candidato às duas vagas no Senado, alguém vai levar uma rasteira. E não será ele, principalmente com o reforço de Collor.
Não é coincidência o número 13 identificando seu gabinete no Senado. Afinal, quem diria, foi o governo do PT que ensinou Collor a conviver com o Congresso Nacional.