Operação padrão exige que Renan Filho desça do castelo para diálogo efetivo com servidores

26/06/2015 08:37 - Geral
Por Davi Soares
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Logo depois que os militares decidiram ontem deflagrar uma operação padrão, o secretário da Defesa Social e Ressocialização, Alfredo Gaspar de Mendonça, reuniu os comandantes daqueles a quem tem chamado de “seus policiais”, para redesenhar a tática para o policiamento ostensivo do Estado. Tal encontro atravessou a noite e é prova do nível de risco que a paralisação dos militares traz para a promoção da paz do Estado. Mas nenhuma atitude será mais efetiva do que o ingresso do governador Renan Filho (PMDB) nas negociações com representantes dos servidores públicos estaduais, que recebem o “aquartelamento branco” como incentivo para deflagração de uma greve geral que a ninguém interessa.

Apesar de sempre afirmar que manteve aberta “mesa permanente de negociações com os servidores”, o governador peemedebista esteve encastelado em seu gabinete, desde que expôs as dificuldades de dar seguimento à política de reposição salarial automática implantada há quatro anos por Teotonio Vilela Filho (PSDB). Mas apesar de Renan Filho justificar o impedimento com a herança de extrapolação do limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para gastos com a folha do Executivo, a imprensa e secretários é que têm sido porta-vozes do que as categorias têm chamado de intransigência do governador em quebrar a política salarial do Estado.

Mais do que diálogo e a reposição salarial, os militares reunidos na última quinta-feira (25) exigiram uma retratação do governador, pois não foram informados de que ficariam de fora da política salarial da data-base de 2015 quando tiveram que engolir, em fevereiro, o “reparcelamento” do acordo salarial que pôs fim ao levante militar contra o governo tucano em dezembro de 2013.

Agora Renan Filho terá de lidar com a presença de manifestantes, que pretendem fazer vigília em suas agendas públicas, para protestar contra a resistência do governo em implantar os 6,41% de reposição das perdas salariais com a inflação, medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A proposta do governo para os servidores civis é de 5%, parcelados em três vezes, até dezembro. E a categoria da educação, por exemplo, quer 13% sobre o piso nacional dos professores.

Corda esticada

O acirramento destes ânimos pode entravar ainda mais os projetos que o governo “da mudança e da esperança” não conseguiu implantar em meio a uma crise econômica e política. Crise esta que é nacional, mas está enraizada em Alagoas e na base de Renan Filho, que apoiou a reeleição de Dilma Rousseff e tem seus principais representantes investigados, a exemplo do pai do governador, senador Renan Calheiros (PMDB), e do senador Fernando Collor (PTB).

Além disso, a operação padrão foi o incentivo que outras categorias esperavam, diante das dificuldades de se mobilizar para uma greve, imposta pela ação sistemática do Judiciário, que tem considerado ilegal maior parte das greves deflagradas nos últimos anos. E escolher entre militares e civis pode ser um retrocesso geral no atual estágio de negociação, que estava fora dos planos dos servidores e do governo.

“Primeiro ano de governo seria um ano de preservar relações. Mas o governo parece que quer romper qualquer tipo de relação”, é a conclusão do dirigente da Central única dos Trabalhadores de Alagoas (CUT/AL), Izac Jacson.

A habilidade política e desenvoltura que fizeram o eleitor “comprar” o projeto de governo peemedebista na campanha de 2014 devem extrapolar a pauta do marketing político eleitoral e ingressar no campo do interesse público, com poder de resolutividade que somente um governador pode ter.

Mas pelo teor do comunicado oficial do governo, que classificou de inoportuna a operação padrão, o governo vai continuar se valendo de táticas de marketing neste jogo que envolve políticas públicas essenciais, como da segurança pública e da educação.

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