Filiação em massa quer impedir que PSOL vire "puxadinho" da Rede em AL

27/04/2015 11:42 - Geral
Por Davi Soares
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Desde a semana passada, a Executiva Nacional do PSOL voltou seus olhos para o destino da sigla em Alagoas. O partido fundado pela ex-senadora e vereadora de Maceió, Heloísa Helena, vive um momento decisivo para o que alguns têm chamado de “fortalecimento”. Mas dirigentes nacionais da sigla querem avaliar bem de perto o esforço de um grupo que teme a transformação do PSOL em um “puxadinho partidário” do novo partido que Heloísa e a ex-senadora Marina Silva tentam criar no Brasil, a Rede.

Há uma semana, três dirigentes do PSOL da Bahia e de Pernambuco se reuniram com um grupo de filiados liderado pelo sertanejo Tony Cloves, sobre o resultado de uma campanha de filiação em massa, que resultou em 612 “militantes” inscritos. O problema é que o Diretório Estadual do PSOL vetou as filiações. E, na última sexta-feira (24), o PSOL Nacional decidiu que virá a Maceió, no próximo sábado (2), para verificar e decidir sobre a aceitação ou não dos novos filiados, que seriam integrantes de movimentos sociais, sindicatos e de outros partidos políticos de esquerda.

O objetivo do movimento é claro: tomar o comando político da sigla das mãos da dupla Mário Agra e Heloísa Helena, que lideram os militantes do PSOL desde sua fundação, em Alagoas. Procurado pelo Blog, o deputado estadual pernambucano Edilson Silva, secretário de organização da Executiva Nacional do PSOL, negou-se a fazer a avaliação política deste contexto de embate e crise. Mas garantiu que uma comissão do PSOL Nacional vai mergulhar a fundo na procedência deste movimento de filiação, para “qualificar o ingresso” dos filiados no PSOL. E demonstrou confiança nas novas filiações e no que chamou de fortalecimento do partido no Estado.

“As caracterizações do que um ou outro agrupamento ou segmento faz do que é o PSOL não foram debatidas. E não faz parte do rol de preocupações centrais do PSOL em nível nacional, no momento. Estamos discutindo é uma situação objetiva: a existência de um grupo grande de pessoas que se articularam em Alagoas de forma legítima. É muito importante. E, eu, como secretário nacional de organização, saúdo essa movimentação. Como é um volume grande, em bloco, temos sempre o procedimento de averiguar. São mais de 600 que exigem que a gente dê uma olhada. É um motivo de muita alegria para o PSOL receber um grupo tão importante e diverso de militantes, e, como é de praxe, vamos fazer uma verificação in loco. Estou tranquilo de que essa avaliação resultará na inclusão desses novos filiados e que o PSOL deve se fortalecer”, explicou o Edilson Silva, por telefone, na manhã desta segunda-feira (27).

O deputado pernambucano esteve em Maceió no último dia 20, acompanhado da também pernambucana e secretária de organização da Executiva Nacional do PSOL, Albanise Pires, e do baiano Ronaldo Santos integrante do Diretório Nacional do PSOL. E quando o Blog insistiu em perguntar se o PSOL corria risco de se tornar um apêndice da Rede e se havia uma crise em Alagoas, disse que esse tipo de assunto não seria debatido com a imprensa. “Isso aí é subjetividade política. Não estou dizendo que não concordo. Estou dizendo que isso não é um assunto para tratar com você”, reagiu.

 

Resgate de um PSOL “desnutrido”

O ex-candidato a governador pelo PCB em 2010, Tony Cloves, é o principal coordenador da campanha de filiação. E argumenta que tenta reverter o enfraquecimento do PSOL, que pode ser ampliado a partir da criação da Rede, cuja criação tem sido coordenada por Heloísa Helena, que se afastou do PSOL para se engajar na criação do novo partido.

“O PSOL está desnutrido. Fizemos dois vereadores em Alagoas, em 2012 e hoje não temos nenhum parlamentar no Estado. A sede do PSOL está sem atividade, fechada. E a nossa preocupação é que o PSOL não pode ser uma sublegenda, nem estar presente dentro da Rede. O partido tem que ter vida própria, decisão própria. Então sentamos e trouxemos mais de 600 filiados, formados por setores sindicais, movimentos pela moradia do Estado de Alagoas, integrantes de outros partidos de esquerda, nessa nova empreitada que é rediscutir o papel do PSOL. E essa é a última crise do partido, em Alagoas, que é uma crise de identidade. A gente não conseguiu levar para a sociedade um projeto para Alagoas”, explicou Tony Cloves.

Segundo o líder político sertanejo que atua no Conselho Estadual de Saúde, o objetivo do grupo que se intitula “Somos PSOL” é discutir o partido como uma nova força política, um novo partido, para debater com a sociedade organizada e outros partidos um novo projeto para o Estado de Alagoas, fora da lógica das elites. E lembra que existe uma grande insatisfação do PSOL Nacional com o comportamento dos líderes do partido em Alagoas, que teriam seguido a lógica dos interesses particulares, ao não apoiar candidaturas presidenciais do PSOL em 2010 e em 2014.

Agra fala em fraude, rasuras e calheiristas

Para o principal líder do PSOL em Alagoas, Mário Agra, as filiações foram negadas por unanimidade pelo Diretório Estadual do partido por conta de “irregularidades nas filiações e rasuras”. A partir da decisão, o ex-presidente estadual do PSOL de Alagoas diz que o partido solicitou que o Diretório Nacional viesse a Alagoas para discutir os motivos desta negativa. Agra ainda negou a preocupação do enfraquecimento da sigla a partir da Rede.

“Não tem nada a ver com a Rede. Quem esteve envolvido com a Rede foi o Edilson, de Pernambuco. O problema é que vários companheiros do partido afirmam categoricamente que essa forma de filiações, muita gente afirma que foi uma fraude, havia fichas rasuradas e tinha filiados até de assessores de Renan Calheiros. Já checamos e muitas informações procedem. E essa informação vamos estar checando até o dia 10, quando vem a comissão para averiguar essas questões”, disse Mário Agra.

Confrontado com a informação de Agra, Tony Cloves disse ter tido conhecimento do suposto assessor de Renan Calheiros entre os filiados. E antecipou que se a informação for checada, o tal assessor, que seria um jornalista de sobrenome “Sena”, teria a desfiliação imediata para solucionar esta que seria o único problema que teria fugido ao controle do movimento de filiação em massa.

“Não sei quem filiou ele. Vou até verificar se esse cara é assessor ou não é do Renan. Eu acho que não é. Já procurei saber. Essa é a única coisa em que ele [Agra] pode se agarrar”, reagiu Tony Cloves.

A vereadora Heloísa Helena foi procurada, mas não atendeu ao telefonema do Blog.

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