Em três meses, polícia matou 26 por “resistência à prisão”, em Alagoas

14/04/2015 10:12 - Geral
Por Davi Soares
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Em resposta às cobranças da opinião pública e em busca de imprimir credibilidade na redução dos números oficiais de mortes violentas em Alagoas, o governador Renan Filho (PMDB) determinou a publicação da lista nominal das vítimas de violência em Alagoas. A iniciativa é bastante positiva, para quem precisa da confiança da sociedade para promover a pacificação do Estado mais violento do Brasil. Agora, com dados em mãos, os cidadãos e organizações da sociedade civil poderão atestar e aprofundar os estudos sobre a realidade da segurança pública em Alagoas.

Um dado que chamou a atenção do blog foi o que indica, entre as 510 mortes do trimestre, houve 26 vítimas de “resistência com resultado morte”. Ou seja, mortos em conflito com a polícia. Somados aos mortos pela polícia em abril, este número deve alcançar o montante de 30 “bandidos mortos”.

A partir dos dados de janeiro de 2015, pode-se concluir que o “cartão de visitas” da nova gestão de Renan Filho e do secretário da Defesa Social, Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, foi apresentado na guerra contra o crime em Alagoas. Naquele primeiro mês de novo governo, a polícia matou 17 alagoanos em situação de “resistência” a alguma abordagem policial. Seis desses foram mortos em um só dia, sendo quatro em Branquinha, um em Maceió e outro em Arapiraca, segundo os dados oficiais.

A Comissão dos Direitos Humanos da Seccional Alagoana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AL) vai se debruçar sobre as listas dos mortos pela violência desde janeiro deste ano. Mas lamenta a ausência dos dados detalhados desde 2014. E sobre os mortos em conflitos com a polícia, observa que este dado teria relação com a quantidade de policiais mortos no final do governo de Teotonio Vilela Filho (PSDB)

“A gente não considera três meses um período que dê para se fazer algum estudo. Agora, desde o final do governo Téo Vilela que esse número de mortos em conflito tem aumentado bastante. A gente já divulgou, inclusive, que este número está um pouco relacionado com o número de policiais que têm morrido. A morte de policiais também aumentou entre 2013 e 2014. Mas ainda não nos debruçamos sobre esses números entre 2014 e 2015 por não ter tido acesso. A partir de agora, vamos estudar esses números, para poder chegar a alguma conclusão”, opinou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB.

"Ou se entrega, ou morre"

No início deste mês de abril, uma entrevista do secretário Alfredo Gaspar causou polêmica na opinião pública e euforia na sociedade, sedenta pelo justiçamento. Entrevistado pelo radialista Fernando Valões, em visita de trabalho ao Sertão de Alagoas, o gestor da segurança pública disse: “prefiro um milhão de bandidos mortos que um policial em Alagoas assassinado”. Ele ainda indicou dois caminhos para os bandidos alagoanos, “ou se entrega, ou morre”. E a fala empolgou um grande setor da sociedade por soar como um retorno à época em que as forças de segurança pública seguiam o ilegal e perigoso lema do “bandido bom é bandido morto”.

O governador Renan Filho tratou de tranquilizar a sociedade que já compreende que a polícia cidadã e eficiente não tem relação com truculência. E garantiu que Alfredo Gaspar e o Estado não incentivam violência policial.

“O Alfredo militou na defesa sempre de uma política que garanta que o Estado tenha firmeza, decisão, atitude, mas não tem interesse de promover a violência através do aparato estatal, que é a Polícia Militar, especialmente, e a Polícia Civil. Aliás, estamos é prendendo muita gente. Eu acho que a polícia tem que sempre promover a paz. E toda vez que alguém morre, a paz não está sendo promovida, independente de quem seja. Então, o Estado não está buscando isso, o Estado não incentiva isso”, disse Renan Filho, na semana passada.

A lista nominal dos mortos pela violência está publicada na sessão Estatísticas do site www.defesasocial.al.gov.br e traz detalhes como local, data e hora do crime; idade, sexo e nome completo da vítima; tipo do crime e da arma utilizada nos chamados crimes violentos letais e intencionais (CVLIs).

A transparência nos dados da violência é importante para que se possa enxergar com lupa como realmente a violência tem atingido a vida dos alagoanos. Que os números continuem caindo, com mais ciência e inteligência. Mas também com firmeza, sempre em defesa da vida e da justiça, sejam quem for os envolvidos neste processo.

O próximo passo do governo, será divulgar a prometida redução da impunidade e os dados da violência dos demais estados nordestinos, já que foi exaltado que Alagoas foi onde mais se reduziu a quantidade de mortes violentas do Nordeste.

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