Collor ataca Janot e denuncia que lista foi 'premeditada'

24/03/2015 08:44 - Geral
Por Eliane Aquino
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O senador Fernando Collor, investigado na Lava Jato sob a suspeita de ter recebido propina da corrupção da Petrobras, partiu para o ataque direto ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A tentativa do senador é desqualificar a lista apresentada por Janot ao STF, que inclui o seu nome, com mais de 40 políticos que podem ter se beneficiado do esquema do petrolão.

Pelo pronunciamento feito ontem por Collor no Senado Federal, Janot é o verdadeiro vilão da Operação Lava Jato.

Collor acusou Janot de ter ‘elaborado’ a lista de denunciados na Lava Jato, antes mesmo da conclusão das investigações. A fonte do senador foi “por ouvir dizer”. A motivação, ele encontrou em algumas reflexões do subprocurador-geral da República, Eugênio José Guilherme de Aragão, ex-corregedor-geral do Ministério Público Federal e hoje vice-procurador-geral Eleitoral.

As reflexões de Eugênio são sobre o sentido da contínua disputa entre instituições relevantes do Estado por espaço de atuação com impacto midiático e, também, da ânsia de alguns membros do Ministério Público e de defensores públicos de mostrarem musculação capaz de interferir na governança, para, desta maneira, buscar prestígio.

Ou seja, para Collor, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, criou uma lista “questionável” para o STF investigar, no intuito de ganhar “prestígio” no cenário político.

O doleiro Alberto Youssef, um dos réus da Operação Lava Jato, apontou Collor como um dos beneficiados com a corrupção na Petrobras. O senador teria recebido R$ 3 milhões, pagos em 2012 segundo Youssef, em troca de um contrato de R$ 300 milhões feito entre uma rede de postos de combustíveis e a BR Distribuidora.

O dinheiro teria sido entregue ao operador do esquema, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, amigo pessoal de Collor e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos durante o Governo do ex-presidente (1990 e 1992). Ramos também é investigado pela Operação Lava Jato por um repasse de 4,3 milhões de reais feito por uma de suas empresas para a MO Consultoria, de Youssef. Quando era ministro do Governo Collor, ele foi acusado de envolvimento em um esquema da Petrobras, mas nada foi comprovado na época.

Trechos do pronunciamento de Collor, ontem, no Senado:

“Nas conversas internas de frequentes e destiladas tardes, Rodrigo Janot vem pompeando que, antes mesmo das conclusões das diligências em curso e das investigações iniciais, já estão prontas, em seu poder, todas as denúncias que tentarão promover junto ao STF. E isso é gravíssimo, sob todos os aspectos. O procurador-geral da República, em seus vespertinos devaneios, alardeia as condenações que fará antes de concluídas as investigações. Ora, se as diligências da Polícia Federal mal começaram, como pode ele já ter prontas em suas mãos todas as denúncias? Baseadas em que provas foram feitas?”.

“A mais fiel caricatura desse eixo político e individualista do Ministério Público foi a atitude de Rodrigo Janot, ao compartilhar a foto daquele momento deprimente em que ele fez questão de empunhar um cartaz aludindo-o como o salvador da pátria. Vejam bem, o procurador Rodrigo Janot como salvador da pátria. Resta saber a que pátria se refere. A pátria do Ministério Público? A pátria dos procuradores? Ou pátria dele mesmo? Na verdade, sua tentativa naquele momento teve também o intuito de engabelar, de iludir, antecipando-se a eventuais incursões sobre ele e o órgão que desafortunadamente dirige”.

“Querem redescobrir o Brasil, salvar a pátria e refundar a Nação, como se o restante da sociedade vivesse na caverna, sendo eles os únicos capazes de criar uma utópica república de Platão, com sua linha a dividir o inteligível do sensível, a ciência da opinião e, no ápice de tudo, o Bem supremo, representado pelo Ministério Público”, expressou o senador, acrescentando que todo este 'deprimente quadro foi exatamente o mote da campanha de Rodrigo Janot para conseguir se alçar ao cargo de procurador-geral'.

“Mais uma vez, o Ministério Público vem sendo sacudido por uma chefia que não tem estatura moral e, menos ainda, estrutura emocional para conduzir um órgão tão importante, com a isenção, a correção e a altivez que se espera. Pior ainda quando isso ocorre em momentos complexos e delicados, como o atual período que o Ministério Público atravessa. Pelo cenário aqui descrito, por toda a atual conjuntura e, principalmente, pelo momento político por que passamos, é sempre oportuno rememorar o ensinamento de Montesquieu, de que não existe tirania mais cruel do que a que se exerce à sombra das leis e com a coloração da justiça'”.

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