Crise e petrolão mudam perspectivas para futuro de Alagoas

04/03/2015 11:02 - Geral
Por Davi Soares
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Se era positivo o cenário político após a eleição de Renan Filho (PMDB), com o apoio dos respectivos presidentes da República, Dilma Rousseff, e do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB), as crises econômica e política e o novo contexto da investigação do esquema de corrupção na Petrobras podem trazer o pior dos mundos para o Estado de Alagoas. A partir da entrega da lista de políticos investigados pela Operação Lava Jato, o rompimento político da base de apoio a Dilma parece ser inevitável e a inédita coalizão de forças no Estado começa a desmoronar.

Porém, pode-se abrir um novo momento de oportunismo em favor das forças políticas do Estado, a partir de uma eventual estratégia de fragilização do governo federal, que poderia trazer um pouco mais de projetos para beneficiar a população, mesmo que com migalhas e através de achaques. Além disso, uma consequência genuinamente positiva seria uma ainda improvável cassação dos acusados de crimes que lesaram os cofres públicos.

A união dos governos estadual e federal foi o ponto mais forte das campanhas vitoriosas de Renan Filho e de Dilma em Alagoas. Mas diversas declarações e atitudes de integrantes da bancada federal já expõem sintomas claros do flerte da base dilmista alagoana com uma oposição cada vez mais legitimada pelos tropeços e contradições do início do quarto mandato petista.

Os políticos mais indignados são os que mais têm potencial de figurar na lista de investigados entregue ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelas ligações que mantiveram com membros da quadrilha que operou o petrolão, em paralelo com outros esquemas.

Na sessão de ontem do Senado Federal, Renan Calheiros anunciou a devolução ao Palácio do Planalto a medida provisória de Dilma que eleva a tributação da folha de pagamento. A argumentação foi técnica, mas a decisão com forte componente política, não apenas pelo fato de Calheiros ter se recusado a jantar com a presidente, na segunda-feira (2). Uma postura contraditória para quem conduziu com mão de ferro as votações que “legalizaram” o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), no final de 2014.

Mas o Planalto já interpreta que a postura do presidente do Congresso tem relação com o fato de Dilma Rousseff não ter feito esforço algum para livrá-lo de complicações resultantes de 12 anos de comando da Transpetro, por intermédio do afilhado Sérgio Machado. E Renan Calheiros ainda quer vetar indicação do PT para substituir Joaquim Barbosa no STF.

Talvez por saber que a sua batata também assa com intensidade inversamente proporcional à queda da popularidade da presidente Dilma, o senador e ex-presidente da República Fernando Collor (PTB), que também pode ficar em apuros com o avanço da Operação Lava Jato, resolveu criticar o arrocho fiscal do governo federal. Na mesma sessão em que Renan Calheiros reagiu contra o aumento de tributos, Collor usou a tribuna do Senado, ontem, para condenar o sacrifício do trabalhador e as políticas fiscal, tributária, financeira e administrativa do governo.

A imagem que poderia simbolizar o flerte da base de Dilma em Alagoas com a oposição é a que registrou o cumprimento do senador mineiro Aécio Neves (PSDB) ao presidente do Senado, após Renan Calheiros devolver a Medida Provisória de Dilma que aumentaria os tributos. Há exatamente um mês, o senador alagoano e o mineiro que travou a mais acirrada disputa pela Presidência da República da história da democracia bateram boca em plenário.

Para o alagoano bem informado, toda esta conjuntura já representa péssimas perspectivas para o futuro do Estado, já que as doações de campanha suspeitas irrigaram as finanças das principais candidaturas vitoriosas em Alagoas, inclusive as contas do governador eleito Renan Filho. E por indicar que as suspeitas de ilegalidades envolveriam os principais representantes da política alagoana, o contexto posterior à abertura de inquéritos contra políticos alagoanos citados na Lava Jato pode representar que o “novo” momento não romperá com a lógica de priorização dos interesses pessoais em detrimento de melhorias significativas das políticas públicas. 

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