Uso de drogas e consumo de bebidas alcoólicas por adolescentes põem em xeque área de lazer na orla aos domingos

19/10/2014 05:40 - Maceió
Por Anna Cláudia Almeida
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A área fechada da orla de Maceió se tornou uma tradicional opção de lazer aos domingos e atrai um grande número de pessoas. Famílias inteiras escolhem as sombras dos coqueirais para fazer piquenique, reunir amigos e proporcionar aos filhos momentos de interação e liberdade, tão escassos por conta da onda de violência no estado.

Todos os domingos, um longo trecho da Avenida Silvio Viana, entre os bairros da Pajuçara e Ponta Verde, é interditado e o vai e vem de carros dá espaço a brincadeiras, skates, bicicletas, patins, além da estrutura que é montada para apresentação da banda da Polícia Militar de Alagoas. O espaço também é destinado a ações sociais, palestras ao ar livre e demais atividades culturais.  

A receita parecia perfeita. Mas o que antes gerava alegria e descontração, começa a dar lugar à preocupação e pode espantar, gradativamente, maceioenses e turistas. As denúncias que chegaram ao CadaMinuto mostram a indignação de pais que já começam a descartar o espaço como opção para o lazer aos domingos. Adolescentes se juntam em grupos para, descaradamente, consumir bebidas alcoólicas e fazer uso de drogas.

No último domingo, ainda mais especial por ser 12 de outubro - dia das crianças -, a presença delas era ainda mais intensa. Só que algumas mães que decidiram colocar a rua fechada na rota dos passeios com os filhos relatam cenas que as chocaram e fizeram pensar se novamente voltarão ao espaço.

Michelline Calheiros é servidora pública e mãe da pequena Maria Helena, de apenas cinco anos. No domingo, a mãe colocou a orla como rota para o passeio com a filha, mas foram apenas alguns minutos para que a felicidade desse lugar a angústia e indignação. Segundo a servidora pública, bastou andar um pouco na rua fechada para ver cenas que ela não imaginaria encontrar no espaço.

“Cheguei à orla por volta das 16h30 e logo dei de cara com um grupo de adolescentes se drogando. Fazia muito tempo que não ia, mas fiquei sabendo que a prefeitura iria promover atividades para as crianças decidi levar minha filha, mas juro que estou bastante arrependida. Procurei alguns amigos, e depois de um tempinho fui logo embora”, contou Michelline Calheiros ao CadaMinuto.

Além do uso da maconha, a servidora afirmou que ficou anda mais chocada com casais menores de idade, num namoro – classificado por ela – bem avançado. “Quando vi os adolescentes namorando fiquei estarrecida porque assim como minha filha, outras crianças estavam presenciando determinadas cenas que deveriam ser evitadas e fiscalizadas naquela região”.

Maconha e álcool: liberados na orla?

O relato da fotógrafa Ana Clark Brêda é bem semelhante. Acompanhada das filhas (de 16 anos e 7 anos), ela contou à reportagem que enquanto tentava arrumar uma vaga para estacionar o carro observou um grupo com cerca de 10 adolescente ‘socializando’ cigarros de maconha, droga cujo consumo é proibido.

“As minhas filhas desceram do carro e ficaram me esperando num ponto, enquanto eu procurava um lugar para estacionar. Ainda pensei em fotografar, mas iria atrapalhar o trânsito parando o carro e não deu para registrar a cena. Se as meninas não tivessem descido do veículo, tinha ido embora na mesma hora”, falou incrédula. “Fiquei chocada”.

Segundo a mãe, essas cenas são bastante comuns no canteiro perto dos coqueirais e a sensação de medo é inevitável. “Uma roda de adolescentes, em bando, bem caracterizados entre os bares ‘Pirata’ e ‘Kanoa’ bebendo aos montes e fumando maconha (sim) publicamente... Dá medo sim de ir para lá e demorei pouco tempo. Sei que precisamos orientar nossos filhos, é nosso papel, mas não quero que minhas filhas fiquem presenciando descaradamente esse crime, porque menor consumindo álcool e usando drogas é crime sim”.

As duas mães afirmam ainda que durante o tempo que estiveram na orla, não perceberam a presença de policiais militares que poderiam inibir a postura dos adolescentes. “Procurei, mas não vi nenhum militar. Se não há fiscalização nem segurança, então a droga parece que está liberada, não é? Então não aconselho nenhum pai levar o filho para lá. Eu mesma passarei um tempo sem frequentar a orla aos domingos”, afirma Michelline Calheiros.

Já Ana Clark acredita que sem fiscalização, os adolescentes demonstram ausência de medo e seguem fazendo o que bem entendem. “Sem a PM por perto eles fazem o que querem, tanto que se acham impunes. Se o juizado de menores fizer uma fiscalização pode ter certeza que sairá de lá com um caminhão lotado de adolescentes”, concluiu a fotógrafa.

Reclamações pelas redes sociais: orla virou pista de skatistas

A falta de segurança e insatisfação com determinadas situações na orla vem ganhando espaço nas redes sociais. Internautas utilizando seus perfis para desabafos e relatar o que vem sendo observado na região que deveria ser de descanso e paz aos domingos.

Num dos relatos, uma internauta (ver foto) afirma que “já deu adeus a paz na rua fechada, onde as crianças eram levadas para brincar e se divertirem aos domingos. Ela relata outro problema: o espaço que está sendo ‘invadido’ por skatistas.

“A famosa rua fechada foi invadida por uma turma pesada de skatistas onde fazem manobras arriscadas, andam em alta velocidade arriscando assim a vida de crianças e idosos que frequentam há anos esse local. Nada contra os skatistas onde eles possuem uma pista própria à pratica desse esporte na própria orla de Maceió e uma praça com o nome “Praça do Skate” que vive vazia por falta dos mesmos! Além disso, ainda fumam maconha na frente de qualquer um que esteja ali, seja criança, adolescente, idosos. Fica aqui a minha revolta e meu protesto para que eles se dirijam para os lugares apropriados à pratica do esporte”, diz a publicação.

A reclamação também é compartilhada pelas mães ouvidas pela reportagem. “Num domingo, um skatista atropelou minha filha. Eles andam em alta velocidade e usam a rua para fazer competição. O mais absurdo é que bem próximo há uma praça apropriada para essa prática, só que as drogas tomaram conta do local e os praticantes do esporte deixaram de frequentar. Na própria orla, há uma praça para isso, só que eles não usam”, comentou Ana Clark.

PM afirma que policiamento existe na orla

Apesar das reclamações, a Polícia Militar de Alagoas, por meio de sua assessoria de comunicação, afirmou ao CadaMinuto que o policiamento na orla de Maceió, principalmente aos domingos – por conta da rua fechada e grande movimentação de pessoas – é constante.

No último domingo, especificamente por conta do Dia das Crianças, havia a presença de policiais militares da Radiopatrulha, Cavalaria e 1º Batalhão. “Sempre temos policiamento na região porque o trabalho da polícia é garantir segurança ao cidadão. Desconhecíamos esses fatos, mas vamos acionar outros órgãos como o Conselho Tutelar, para uma ação conjunta e impedir que essas cenas se repitam”, colocou coronel Maxwell.

A polícia pede que caso a população flagre esses adolescentes consumindo drogas e bebidas alcoólicas, denuncie através do telefone 181. “A denúncia é importante para que haja esse trabalho conjunto. É preciso montar uma ação para fazer essa fiscalização”, finalizou a assessoria. 

 

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