Júnior Barbosa volta a acusar deputado e cita juízes e desembargador

21/08/2014 14:05 - Polícia
Por Lucas Alcântara - colaborador
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Acusado de chefiar um grupo de extermínio, Eliseu Barbosa de Oliveira, o Júnior Barbosa, revelou à imprensa, na tarde desta quinta-feira (20), detalhes de crimes bárbaros cometidos por ele e que supostamente teriam o aval do deputado estadual Marcos Barbosa (PPS).

A coletiva foi concedida na sede da Delegacia Geral da Polícia Civil, em Jacarecica, onde o ex-suplente de vereador confessou a participação em homicídios, denunciou um esquema de tráfico envolvendo desembargadores, juízes e promotores da Justiça de Alagoas e afirmou que o deputado ordenava serviços de “magia negra” contra inimigos como Cícero Almeida, Kátia Born e Ronaldo Lessa.

Chorando por diversos momentos e dizendo temer pela própria vida e a da família, Júnior afirmou que Marcos Barbosa, de quem é sobrinho, encomendou a sua morte por intermédio de Edenílson Campos Teixeira, conhecido como Gau. Segundo o acusado, Edenílson é funcionário de confiança do parlamentar e encomendou o assassinado ao traficante Caetano, cujo pai está preso no mesmo local que Júnior Barbosa e o executaria com requintes de crueldade a mando de Marcos.

“Edenílson ligou para o presídio e falou ao pai de Caetano, o Zé Moreno, que o deputado estava pagando R$ 15 mil pela minha morte e eu tinha que morrer não de facada, nem de nada. Era com pancada, de cacetada (sic). Eu estou pedindo socorro a todos vocês, ao Dr. Carlos Reis, ao Dr. Denisson Albuquerque. Estou pedindo socorro porque o que eu estou vendo na Justiça alagoana é que o poder e o dinheiro estão imperando. Eu me senti amedrontado de me entregar à Secretaria de Segurança por conta do conhecimento, pelas coisas que o deputado vem dizendo ao longo de 22 anos que trabalhei para ele e pela blindagem dele junto a juízes, promotores e com a própria Secretaria de Segurança”, afirmou Júnior Barbosa.

Denúncias ao Gecoc

O ex-suplente afirmou que as denúncias ao Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), do Ministério Público Estadual, estão sendo feitas há dois anos, quando, segundo ele, começou a ser ameaçado pela esposa e cunhada do deputado Marcos Barbosa, a vereadora Silvânia Barbosa e Kátia, sucessivamente.

“Eu burrei (sic) de não ter denunciado todos os crimes que eu sou sabedor desde que procurei o Gecoc. Hoje eu temo muito pela minha vida, pela vida das minhas filhas e da minha esposa. Não sou inocente, me meti em erros e erros todos os seres humanos estão previstos a ter. Quero pagar meu erro, mas quero pagar com dignidade. Já sofri e estou sofrendo dentro do presídio. Já tem planos de me matarem com os presos dentro do presídio”, disse Júnior em relação à “encomenda” de Marcos Barbosa. Sobre o assunto, o acusado acrescentou: “tudo que me acontecer é culpa do deputado, da esposa dele ou da cunhada”.

O acusado revelou também o esquema dos crimes, cujas execuções eram relatadas ao deputado e aprovadas sob a recomendação: “cuidado para não serem descobertos”. “O Marcos Barbosa sabia de tudo. Eu, como representante da área do Trapiche, dizia tudo e o aval vinha em seguida. Relatei uma média de 10 crimes e entreguei ao Gecoc todos os nomes dos funcionários do deputado envolvidos. Hoje a polícia pode não conseguir isso, mas se mandar uma pessoa desconhecida, sem falar nesses crimes, perguntar do Trapiche ao Pontal quem comanda o tráfico as mortes, todo mundo vai saber que o mandante é o deputado. Lá todo mundo tem medo dele”, afirmou.

Caso Baré Cola

Durante a coletiva, Júnior Barbosa voltou a acusar Marcos Barbosa de mandar matar, em 2006, o líder comunitário Edvaldo Guilherme da Silva, mais conhecido por Baré Cola. Sobre o crime, o acusado afirmou que sete pessoas tiveram envolvimento e que, inclusive, algumas já foram mortas. “Em várias reuniões, escutei o próprio deputado afirmar que já tinha gastado mais de R$ 2 milhões para conseguir ser inocentado pela Justiça”, disse o acusado.

Sobre os desembargadores, juízes e promotores que supostamente estariam envolvidos no caso, ele afirmou que não poderia revelar quem são por não saber exatamente qual é a participação, mas adiantou que os nomes já são de conhecimento e estão sendo investigados pelo Gecoc.

Suposta agressão e ameaça de morte

Júnior Barbosa esclareceu também a suposta agressão sofrida dentro do Presídio de Segurança Máxima, conforme noticiado pela imprensa. Segundo o ex-suplente, os cortes de facada em sua cabeça foram causados propositalmente por ele mesmo após escutar de um vizinho de cela a “encomenda da morte” feita por Marco Barbosa. Júnior afirmou que a negociação por Edenílson, funcionário do parlamentar, e pelo traficante Caetano, cujo pai estava preso no cela ao lado da qual Júnior Barbosa foi colocado.

“Quando eu me entreguei ao Gecoc, fui levado diretamente para o Presídio de Segurança Máxima de Maceió. Lá, me colocaram em uma cela de visita íntima porque não tinha lugar mais seguro para eu ficar. Ao lado da minha cela, estava Zé Moreno, pai de Caetano. Quando soube, já fiquei preocupado porque eu tinha denunciado o filho por tráfico com o deputado. Me transferiram de cela e novamente fui parar ao lado do Zé Moreno. Em uma das noites, escutei ele falando no telefone com o Edenílson e a conversa foi clara: o deputado está pagando R$ 15 mil pela cabeça do animal [referindo-se a Júnior Barbosa]. O Zé desligou o telefone e os presos da cela começaram a amolar as ferramentas que serviriam para me matar. No outro dia ele ligou para o Edenílson e disse: prepare o dinheiro que o animal vai ficar pronto hoje e o abate custa R$ 15 mil”, contou.

Ao ouvir a conversa, Júnior Barbosa disse que se desesperou e, apesar de já ter comunicado à direção do presídio sobre o problema, julgou que a solução para sair do local seria se agredir para causar um ferimento e ser transferido para um hospital. O acusado afirmou que ouviu várias ligações de Edenílson com os detentos e a morte estava “acertada”, tendo o banho de sol como o momento certo para a execução. “Hoje só quem pode me salvar é a Segurança Pública do Estado. Se não fizerem nada, eu não sei o que será de mim, por isso estou pedindo socorro”, completou o ex-suplente.

Envolvimento em crimes

Júnior Barbosa confirmou o envolvimento direto em três crimes. Entre eles, o assassinato de dois menores que foram capturados na Praça Pingo D'Água, no bairro do Trapiche, e mortos em 2011. A polícia investiga também o estupro de uma amiga das vítimas, uma adolescente também de 16 anos.

No primeiro crime, o suplente teria capturado o menor A.J.S., levado até a sua residência, torturado e enforcado. Cinco dias após o crime, o corpo foi encontrado carbonizado por equipes do Instituto Médico Legal (IML), no Polo de Marechal Deodoro.

Quinze dias após a execução do jovem, Eliseu teria capturado, também na Praça Pingo D’Água, um menor de 15 anos de idade. No segundo crime, o Júnior Barbosa, que já havia sido administrador do cemitério de São José na gestão anterior, teria mantido contato com o coveiro, identificado apenas como André, para enterrar o corpo do menor em uma cova rasa.

O terceiro crime não foi detalhado pelo acusado, assim como motivação dos dois homicídios não foi confirmada.  

Magia negra

Além do detalhamento do esquema de extermínio, uma das revelações mais alarmantes foi a prática de magia negra por Marcos Barbosa, que encomendava ao acusado serviços definidos por ele como “macumba e feitiçaria”.

“Várias vezes o deputado pediu que eu colocasse papel na boca de cadáveres com nomes de seus inimigos e de políticos, como eu já vi os de Cícero Almeida, Ronaldo Lessa e Kátia Born. Eu e outros coveiros já enterramos garrafas de feitiçaria mandadas por ele. Outras vezes, o Marcos me pedia crânios de defuntos do cemitério para serem usados em rituais de macumba. Também já tirei dentes dos corpos porque ele tinha prometido a filhos de amigos dele que estudavam odontologia”, contou Júnior Barbosa.

Novas investigações

De acordo com o delegado Denisson Albuquerque, que vem conduzindo as investigações, as denúncias feitas pelo acusado serão anexadas ao inquérito policial, acrescentando que um novo processo investigativo deverá ser instaurado para apurar a participação de outros envolvidos. 

A reportagem tentou contato com o deputado Marcos Barbosa, mas não obteve êxito. 

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