Banda podre da PM rouba e agride estudante. E a culpa não é da imprensa

18/04/2014 08:30 - Geral
Por Davi Soares
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(Atualizada às 23h04)

Na mesma tarde em que o Cada Minuto repercutia, pela primeira vez na imprensa alagoana, o caso da estupidez humana retratada em um vídeo de tortura policial durante uma abordagem que não teria sequer resultado em prisão, outro grupo da banda podre da Polícia Militar de Alagoas (PM) cometia mais crimes de forma ainda mais explícita. Parentes de um jovem que me pediu para ser identificado apenas como Gabriel me telefonaram na noite desta quinta-feira (17), para denunciar que o estudante de 19 anos havia sido abordado por uma guarnição da Rádio Patrulha, na Ponta Grossa e foi agredido com um soco nas costelas. Além disso, o jovem foi roubado por policiais que somente o liberaram após ouvirem alertar que era parente de um militar.

Pois é, alagoanos, o Gabriel, que estava com um colega na Praça Santa Tereza diz que foi agredido e roubado por policiais. Denuncia que levaram-lhe um cartão de memória de seu celular e R$ 4 reais retirados de sua carteira. Isso depois de ter sido revistado e levado para um galpão abandonado, onde assistiu outros cerca de oito jovens, entre eles moças, serem agredidos e submetidos a choques elétricos.

Enquanto esperava os policiais decidirem se seria ou não liberado, outro militar rasgava os pneus de sua bicicleta. E ainda levaram de seu amigo, com quem estava conversando numa praça pública, uma sacola com tomadas e fitas isolantes, sob a acusação de que se tratava de material roubado. Os senhores acima da lei orientavam a todos a não olhar para seus rostos ou para suas identificações.

A violência demonstrou seu momento mais covarde quando a guarnição se deparou com a informação de que agrediam e roubavam um parente de outro militar. Logo, liberaram o jovem, sem antes lhe ameaçar outra agressão, quando este tentou, sem sucesso, olhar para trás para tentar identificar quais eram os agentes de segurança pública que agiam como criminosos.

Círculo de conivência

Um corporativismo criminoso demonstrou que não adianta exercer a cidadania diante do vale-tudo praticado pela banda podre da polícia nas ruas da capital mais violenta do Brasil. Após a ocorrência, a vítima, que é enteada de um oficial do Corpo de Bombeiros, seguiu até Centro Integrado de Operações da Defesa Social (Ciods), onde os agentes de segurança presentes se recusaram a ouvir e oficializar o relato do crime cometido pelos policiais. Já na Central de Flagrantes, a denúncia foi formulada, mas outra postura contrária às políticas de redução de violência se mostrou presente, logo após a ocorrência ser registrada.

O policial civil que o atendeu na Central de Polícia minimizou a violência sofrida pela vítima. Depois de informar quea principal prova da existência do crime, o exame de corpo de delito, somente poderia ser realizado após o feriadão, na terça-feira (22), o jovem alertou que o hematoma poderia ter sumido. Foi quando o agente de segurança afirmou: “Se sumir, é porque não foi nada. Foi uma agressão leve”.

No caso do jovem da tatuagem de palhaço, torturado por pelo menos dois policiais fardados ainda aguarda informações que podem ser repassadas às forças de segurança pelo Disque Denúncia 181. Não havia tatuagem de palhaço na pele de Gabriel, nem qualquer outra suspeita pesa contra o jovem. Mas diante dos comentários que o post anterior tem recebido, parece que a sociedade vai continuar alimentando este tipo de abordagem criminosa e covarde de policiais que não entenderam ainda o tamanho de sua autoridade perante o cenário trágico no Estado mais violento do Brasil.

“Como vou confiar em uma polícia que me rouba R$ 4 reais?”, questionou Gabriel, na conversa que teve comigo, por telefone. Pois é, como vamos confiar em uma sociedade que apoia este tipo de atitude dos agentes de segurança, Gabriel?

A assessoria de imprensa da PM voltou a repudiar qualquer tipo de excesso na atividade policial e orienta vítimas de procedimentos ilegais denunciar às corregedorias da corporação ou da Secretaria da Defesa Social. Além disso, as vítimas podem ligar para o Disque Denúncia 181. E quanto ao caso específico de Gabriel, o boletim de ocorrência deve abrir automaticamente uma investigação na Corregedoria da PM.

Por uma polícia cidadã

O meu compromisso, enquanto comunicador social formado em universidade pública é com o respeito à vida e com a defesa da legalidade. Já fui vítima da violência, tive arma apontada para minha cabeça. E não mudo minha postura em defesa dos Direitos Humanos. Não defendê-los seria não admitir que qualquer um de nós ou de nossos familiares podemos ser as próximas vítimas, por ter cometido ou não algum delito.

Mas fico feliz pelo debate iniciado após a abordagem que fiz no post anterior, onde está impressa a minha opinião, em defesa dos bons policiais e de seu importante papel para a sociedade. Até porque um dos motivos mais recorrentes de libertação de “criminosos” pela Justiça são ilegalidades cometidas pela polícia nos flagrantes ou nas investigações.

Em pouco mais de sete anos de profissão, expus o drama de dezenas de vítimas da violência, entre elas policiais no exercício da defesa da sociedade. Escrevi milhares de linhas de reportagens contra casos de corrupção e sobre diversas operações policiais contra os grandes responsáveis pela criminalidade do Estado. Fiz matérias sobre a prisão de políticos e de seus parentes. E também denunciei o descaso na estrutura de trabalho das polícias. Por isso, algumas críticas não me atingem como gostariam alguns desses torturadores fardados.

A imprensa alagoana cumpre seu papel em defesa dos Direitos Humanos, ao denunciar o descaso em hospitais e escolas públicas. E não pode ser acusada de "defender bandido", ao apontar crimes cometidos por que combate ilegalidades. 

Alagoas precisa de uma polícia forte, implacável, porém respeitosa e cidadã. Respeito não se impõe. O resultado da imposição de respeito, é medo. E já temos muita gente do lado do crime. Que a polícia permaneça do lado da legalidade.

(Decidi manter a divulgação apenas do primeiro nome da vítima, apesar de outro órgão da imprensa já ter divulgado seus dados. Porque foi um pedido da vítima, que apelou argumentando pela sua segurança. Tenho cópia do Boletim de Ocorrência)

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