Presidente do CRM/AL diz que vinda de médicos de Cuba não resolve problemas em Alagoas

15/05/2013 02:52 - Saúde
Por Vanessa Siqueira
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A falta de médicos e de estrutura adequada para trabalho virou discurso corrente em todas as partes do país. Na última semana, o governo federal através do chanceler Antônio Patriota disse que estuda a possibilidade de enviar 6 mil médicos cubanos para áreas remotas do Nordeste e da Amazônia, onde o atendimento é precário e os médicos brasileiros se recusam a trabalhar.

Em entrevista ao Cada Minuto nesta terça-feira (14), o presidente do Conselho Regional de Medicina em Alagoas, Fernando Pedrosa, afirmou que a medida estudada pelo governo federal não iria resolver os problemas na saúde brasileira. Segundo ele, várias associações médicas pelo país já se posicionaram contrária a medida do governo.

“O problema é que estamos a um ano das eleições e vejo que tal medida tem pretensões eleitoreiras. Outro grave problema é referente ao nível desses profissionais que virão para o país e se eles são fluentes em português. Imagine você ser atendido por um médico alemão que não fala português. Ele não teria competência suficiente para saber o que o paciente estava sentindo e muito menos a pessoa atendida entenderia o que o médico estava falando. São atitudes que  devem ser pensadas melhor”, afirmou.

Fernando falou com nossa reportagem durante uma reunião em Brasília com os presidentes dos conselhos regionais e federal de medicina. Um dos temas da pauta era justamente a intenção de se trazer médicos cubanos para o Brasil.

Ele explicou que o CFM é contra essa medida pelo fato de a formação dos médicos serem diferente da brasileira. Apesar dos bons níveis médicos no país, em Cuba alguns cursos de medicina são equivalentes aos de enfermagem no Brasil. Outro diferencial está no fato de o médico que se forma em Cuba possuir especialidades de acordo com a área que atua. Fernando explicou que o médico brasileiro recém formado está apto a atuar em diversos segmentos brasileiros.

“Para que estes médicos estejam aptos a atuarem aqui, eles deverão ser submetidos a um teste de revalidação do diploma, teste de fluência em português e comprovar que sua formação condiz com as necessidades brasileiras. Cuba tem um regime diferente do brasileiro”, disse.

Alagoas tem médicos, falta estrutura

Em fevereiro deste ano, o Conselho Federal de Medicina divulgou o estudo Demografia Médica no Brasil, que trouxe um panorama da situação dos médicos de todo o país. Alagoas ficou abaixo da média nacional, registrando pouco mais de um médico para cada mil habitantes.

O relatório também apontou que dentre as medidas a serem tomadas para reverter esta situação estão a reestruturação do sistema de saúde. Fernando Pedrosa reafirma que Alagoas e em outros estados é necessário a adoção urgente de políticas de valorização dos profissionais. Ele defende também que é necessário um maior investimento em equipamentos para dar estrutura para que os médicos e servidores da saúde tenham condições de executar seu trabalho.

“Fala-se que em Alagoas falta médico, mas em todos os municípios há pelo menos dois profissionais atuando. O grande entrave é que as prefeituras não estão dispostas a pagar um salário que equivale aos serviços prestados. Oitocentos reais é muito pouco para se pagar a um médico. Além disso, o governo federal repassa R$ 10 mil aos municípios. Eles têm em média um gasto mensal de R$ 25 mil. O restante eles tem que cobrir de alguma forma”, contou.

Pedrosa afirma que uma oferta por melhores salários e melhores condições de trabalho resolveria em parte os problemas enfrentados na saúde pública tanto em Alagoas como no restante do país.

“É uma grande discurso falar que faltam médicos quando não se investem em melhorias na rede de saúde. Tenho certeza que se oferecessem aos médicos o que vão oferecer aos cubanos, muitos aceitariam. Agora é necessário investir na infraestrutura”, afirmou.

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