A Presidenta Longe, o Papa Pobre e ambos Pop

17/03/2013 16:17 - Geral
Por Candice Almeida

A semana foi marcada por dois acontecimentos muito importantes. O primeiro, para nós alagoanos, a inauguração oficial do Canal do Sertão; o segundo, para a população mundial, a escolha do novo Papa.

Em princípio dificilmente o leitor encontrará algum ponto de convergência entre os eventos, mas como estive no evento do sertão alagoano e fiquei chocada com o que vi, acho que posso explicar onde encontrei um viés interessante para ser abordado.

Inicialmente é interessante enaltecer a chegada da água no deserto alagoano. Para quem não sabe, Alagoas convive com a mais severa estiagem que se tem notícia. Desde 2010 que as chuvas rarearam e não cai água suficiente para a plantação e criação de animais. Com isso o trabalho de muitos já não existe e a sobrevivência só é possível por conta dos programas sociais do governo federal.

A chegada da água ao canal do sertão é mesmo razão para comemoração, só não se sabe ainda para quem. Se para os sertanejos vítimas da estiagem, se para os políticos que se acusam “pais” da obra ou se para os funcionários da construtora que realizaram seu trabalho a contento.

[Falo dos construtores porque sei que, após o evento oficial, se refestelaram numa festinha particular ao lado do lugar da inauguração]

O Papa eleito, Francisco, o primeiro da América Latina, chegou ao Vaticano causando impressões e expectativas contraditórias. Se por um lado é caridoso, humilde e temente aos dogmas católicos, por outro convive com o estigma que muitos lhe imputam, de ter sido conivente com a ditadura portenha.

Francisco tem sido notícia recorrente nos meios de comunicação por seu perfil pouco solene. Dado às quebras de protocolo, tem chamado atenção por procurar manter-se leal a seus preceitos franciscanos e buscando despertar nos fieis a importância do perdão e da caridade, celebrando os pobres quando estes são mais esquecidos.

Quanto às acusações que insistem em lhe imputar, não há comprovações, não há nada além de declarações do casal Kirchner que o desabone, o que talvez seja até bom. Ainda assim, o Papa tem rompido com mais que paradigmas seculares, tem dado exemplo a líderes religiosos e políticos de todo o mundo.

Enquanto o Papa tem se esforçado para conseguir driblar a guarda suíça (os anjos da guarda do papa) para chegar perto dos fiéis e cumprimentá-los pessoalmente, a Presidente vem ao sertão, depois de ter sido eleita explorando politicamente o fato de ter sido vítima da ditadura no Brasil, e apenas de longe acena para a multidão de sertanejos vindos de diversos estados nordestinos que gritam seu nome e lhe festejam.

O sertão foi tomado por militares do exército. O mesmo exército que na época da ditadura foi o algoz da Presidenta, hoje é usado por ela para afastar manifestantes e a população em geral. Sob o manto da segurança nacional, afinal a segurança da presidenta é questão de segurança nacional, Dilma mantem-se longe do povo, longe de quem a elegeu, longe daqueles que só querem dizer àquela que os representa o quanto a admiram.

Se por um lado o mundo ganhou um Papa generoso, simpático e popular; os sertanejos ganharam uma Presidenta apressada, objetiva e popular.

Chavez morreu semana passada e sob seus ombros a pecha de ditador e intolerante – o  que realmente era. Mas são uníssonas as manifestações no sentido de que o ditador Venezuelano era incapaz de falar ao povo e depois não ir até ele para ouvir de perto suas súplicas.

Qual a lição?

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