Liberdade aos brasileiros, e só.
Dia desses uma amiga estava revoltada com o papel que a “grande imprensa” havia desempenhado na cobertura do julgamento do “mensalão”, achando que era um desserviço à democracia do Brasil o linchamento público à imagem de pessoas que lutaram contra o Regime Militar, que sofreram, foram presas, torturadas e que conquistaram as liberdades sociais do país. Admitamos que tenha sido exatamente assim.
Sempre fui uma entusiasta daqueles heróis, aqueles que agiram contra o sistema, de forma ordenada (ou não), por acreditarem realmente que um país plural e democrático era possível e que o militarismo era a principal mácula à democracia brasileira. Entretanto, alguns daqueles não se preocuparam com quem são hoje, não se preocuparam em trilhar seu próprio caminho, e ao chegarem ao poder optaram pelas mesmas práticas que sempre imputaram nefastas aos grupos políticos que dominavam até então.
Inadmissível justificar seus próprios erros no fato de tal prática ter sido comum no passado. No passado a escravidão era comum e aceita, hoje é crime. No passado censura foi institucionalizada, hoje é intolerada. Ora, ainda que a prática ilegal e imoral do passado jamais tenha sido punida, não é possível que os “baluartes” da liberdade se adaptem a tal prática sob o manto do passado de impunidade.
Creio que se os próprios heróis do passado não se preocuparam com sua reputação na atualidade, não deva ser a imprensa, aquela que foi libertada, a ser responsabilizada por tais erros. Afinal, a censura não foi combatida para que a liberdade de expressão beneficiasse os revolucionários, mas os brasileiros.
A forma como foi feita a cobertura pode até ser questionada, é legítimo, principalmente em países livres, mas acusar deliberadamente é irresponsável. E se a acusação contra a imprensa é essa, que sejam buscados os meios legais, mas jamais a censura.
Lutar pelo silêncio da chamada “grande imprensa” é lutar contra tudo o que sempre foi defendido nesse país. Tentar desmoralizar e desacreditar a imprensa, seja ela quem for, é agir contra todas as convicções libertárias e democráticas que já existiram ao longo da história.
Críticas são e devem ser sempre bem-vindas, mas censura deve ser combatida com todas as forças.
Aqueles mesmos que se vangloriam por terem lutado pela democracia e liberdade do Brasil hoje vão às ruas e espaços públicos para calar uma estrangeira de passagem – a cubana Yoani Sanchez.
Será que a ideia é que apenas o Brasil seja livre? Ou esse é apenas um indício de que aqueles que acreditam que nos deram a liberdade se acham no direito de dá-las apenas a quem julguem merecedores?
Há muito que já não acredito que ainda existam os revolucionários das décadas de 60 e 70. O Brasil era outro e os revolucionários eram jovens idealistas. Os ideais daqueles revolucionários não são os mesmos de hoje, e isso é fato.
O país mudou e os brasileiros mudaram. Se durante o regime militar os revolucionários foram à Cuba adquirir treinamento com o regime ditatorial cubano não significa que tenham dívidas eternas a serem pagas pelos militantes de hoje. Não mesmo. Muito menos que hoje se admita no Brasil a intolerância a uma blogueira – que diga verdades ou mentiras. Afinal, não vejo ninguém indo às ruas calar nenhum blogueiro brasileiro, e os daqui falam muito mais do que ela.
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